Usina de Letras
Usina de Letras
32 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 


Artigos ( 63022 )
Cartas ( 21348)
Contos (13298)
Cordel (10353)
Crônicas (22573)
Discursos (3246)
Ensaios - (10602)
Erótico (13586)
Frases (51456)
Humor (20160)
Infantil (5570)
Infanto Juvenil (4918)
Letras de Música (5465)
Peça de Teatro (1386)
Poesias (141211)
Redação (3354)
Roteiro de Filme ou Novela (1065)
Teses / Monologos (2441)
Textos Jurídicos (1965)
Textos Religiosos/Sermões (6336)

 

LEGENDAS
( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )
( ! )- Texto com Comentários

 

Nossa Proposta
Nota Legal
Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Cronicas-->Bucha de Canhão -- 29/04/2000 - 10:35 (José Ernesto Kappel) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Os homens mudaram ou a cidade mudou. Quem já nasceu numa cidade miúda - que lembra presépio mal construído - certamente espera que nada nela mude.

Mas, ao contrário, com o passar dos anos, os homens mudam e, insatisfeitos, mudam a cidade.

Minha cidade não é mais a mesma: as ruas se alargaram, as luzes ficaram mais claras, os cidadãos passaram a matar mais, o número de roubos aumentou, a Càmara dos Vereadores passou a ser mais corrupta; trocaram os bancos da pracinha,cortaram árvores, ergueram prédios monstruosos, aquietaram-se os velhos, e as crianças não tem mais onde brincar.

Num gesto extremo de modernidade já não entregam leite em latões como antigamente, os jornais são atirados a minha porta, as lavadeiras, de trouxas à cabeça, esmoureceram-se pelos caminhos do novo tempo.

E vieram os meios de comunicação mais aprimorados pois a gente sabe na hora quem foi assassinado. Eles só não contam o verdadeiro motivo da tragédia, isto a gente fica sabendo nos botecos, entre um gole e outro, eles sabem de toda vida passional do morto e do assasino. Ou tem mulher no meio ou tem mais mulher no meio.

Tóxicos, vá lá. Há uma montoeira deles. Os mais pobres a polícia prende. Os ricos logo estão nas ruas de novo.

Minha cidade mudou e me levou junto. E com isso, meus sonhos também foram sepultados. Até a dona da zona morreu. Morreu velha. Seu enterro foi acompanhado somente por alguns políticos da região.

E assim foi; o tempo passou, a criança se foi, a terra parece que rodou e levou a metade dos amigos.

É como alguém disesse: "A metade prá cá" "outra metade prá lá". Os que não tinham que morrer, morreram. Os que tinham que morrer estão bem vivos.

Sentei no banco da praça e meditei comigo mesmo: que faz um velho de 90 anos aqui, vivo da silva, pensando no passado e ainda procurando sexo de palpar?

Mas só olha pra mim gente tão velha como eu.Acho que virei mendigo na minha própria cidade: não há mais ninguém para cumprimentar nem falar. Ah! Os mendigos sim. Estes são bom de papo.

E cheguei a triste conclusão que um século se passou e a vida continuou sem muita coisa prá dizer. Nem desmoriado fiquei.

Triste sina da cidade.Virei bucha de canhão nesta praça de soldados, sem tiros,sem guerras. Um homem como o vento, que vai e roça o tempo e suas medidas. Pela lógica, não deveria ser assim. Todo homem devia morrer antes de conhecer o outro lado da vida que é a morte em vida.


Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui