Carta à Celso Sabadin, jornalista e crítico de cinema (minúsculo) da Rádio CBN, à s sextas é colunista em http://www.cineclick.com.br
Faz bem assistir ao filme de Peter Jackson, e deparar-se com um mundo fantástico e irreal, existente apenas nos livros. O que fascina milhões de leitores, algum dia fascinará milhões de espectadores, quando a jornada cinematográfica estiver na reta final.
Dezembro de 2001, os mesmos milhões de espectadores, esperavam ansiosos pela estréia do primeiro de uma série de três filmes, dirigidos por Peter Jackson, e baseados na triologia do escritor J.J.R. Tolkien, O Senhor dos Anéis.
Janeiro de 2002 marcou a estréia nas telas brasileiras da Irmandade do Anel, primeiro de uma série de três filmes a serem lançados no natal dos anos seguintes; As duas torres, e O retorno do Rei.
Milhões de espectadores desavisados, mas não pela falta de informações, saíam dos cinemas desapontados com o final do primeiro episódio. O público queira conhecer o fim da epopéia, mas teria de esperar até o final do mesmo ano para acompanhar o decorrer dos fatos, e assim para o filme seguinte, a fim de descobrirem o final. Quem sabe, conhecer os livros em que os filmes foram baseados? São livros grandes... Por que ler-los, se os filmes serão lançados daqui um ano? Respondo: E porque não? O que você vai perder com isso? Nada, absolutamente nada!
Alguns críticos subiram em cima do muro, receosos em emitir uma opinião verdadeiramente séria sobre o assunto, e talvez por estarem por fora do assunto, já que alguns nem mesmo se deram ao trabalho de lerem os livros em que o filme foi baseado. Talvez bastasse que lessem apenas o primeiro, já que os outros dois filmes seriam lançados nos anos sequintes, dando tempo suficiente para a leitura dos dois livros restantes. Por que ler-los, se somos apenas críticos de cinema? E porque não? Nada a perder, eu presumo...
Em dezembro de 2002, quando o segundo episódio da série cinematográfica chegar nas telas brasileiras, milhões de espectadores, estarão afoitos na porta do cinema, esperando uma chance de vislumbrar as cenas do próximo capítulo da jornada.
Os que leram os livros, poderão comprovar o quão fiel e condensado, foi o roteiro dos filmes de Peter Jackson. Poderão comprovar que apenas o desnecessário foi omitido, e que o filme primou pela narrativa, e pela desenvoltura com que demonstrou milhares de detalhes escondidos nas páginas dos três livros da triologia do Senhor dos Anéis.
Os que ficaram para trás, e mal puderam enxergar as minúsculas letras das súmulas de Tolkien, perderão o maior e melhor espetáculo cinematográfico, desde o lançamento do primeiro filme da triologia original de Star Wars, por George Lucas. Poderiam até comprovar a grandiosidade da produção de Peter Jackson, caso tivessem tido a humildade de ler e assistir, e informar - porque criticar é informar - que existe um universo além da eterna luta entre o bem e o mal, e que apesar de ser apenas um arremedo da lenda da Távola Redonda, o filme empolga, e o livro mais ainda.
Apesar de ter um argumento batido e rebatido pelas páginas de toda a literatura mundial, e por todas outras obras cinematográficas baseadas em aventuras fantásticas em mundos cheios de terror e magia. Apesar de ser até um pouco simplista e muito maniqueísta, o verborrágico exercício cinematográfico de Peter Jackson é um primor de narrativa, por ter simplesmente condensado tanto material em tão pouco tempo de duração. Simplesmente, três horas e meia de fotogramas, contra umas míseras quase quatrocentas páginas.
Pra quem não leu ainda, os livros contam uma estória fantasiosa, cheia de aventuras e lugares mágicos, com seres estranhos e bizarros. Tão bom quanto ler sobre o reino de Camelot, sobre o reino do bardo de Shakespeare, ou contemplar a maravilhosa sequência inicial de Janela Indiscreta de Alfred Hichcock, é o livro de Tolkien, que transporta o leitor ao mundo mágico da Terra Média. O filme de Jackson faz o mesmo utilizando-se de vários elementos completamente inseridos na cinematografia mundial, e até mesmo considerados clichês, mas que sempre funcionam. Mais legal que ver o filme, é ler o livro, e ver o filme novamente.
Ninguém defendeu o filme com uma obra prima cinematográfica, e assim como o primeiro Guerra nas Estrelas também não foi, os dois apenas tornaram-se filmes que romperam barreiras e fundaram uma instituição lucrativa e vantajosa para seus produtores. O primeiro episódio cinematográfico do Senhor dos Anéis será um marco cinematográfico de uma loucura bem sucedida. E não foi assim como George Lucas ficou conhecido? Um louco visionário.
O filme é um vídeo game? Quem não gosta de um bom vídeo game? Não conheço ninguém que seja mais novo que oitenta e quatro anos, que não se divirta com um bom vídeo game. Os filme são diversão... Os livros também... Melhor ainda, é juntar os dois em um. Que tal ver o filme, mas também ler o livro? Leitura exercita a mente, e apesar dos críticos serem apenas críticos de cinema, devem tentar evitar ao máximo as críticas irresponsáveis, de quem teve os olhos vendados e ouvidos tapados por omissão à arte de ler.
Caros espectadores: Ler faz bem pra alma, e mantém a mente sã, de todas as influências negativas ou obstruções de críticos cegos por sua própria incompetência. Criticar um filme baseado numa adaptação literária, sem ter ao menos lido a obra na qual o filme é baseado, é uma incompetência. Cinema não existe sem literatura, e ponto final. Pois, mesmo quando não é baseado em alguma obra literária, cinema ainda sim, e talvez principalmente, é literatura.
Também não queria definir incompetência, por erro de digitação, falhar no ditado da escola, faltar na concordància, ou esquecer a pontuação... Digo, apenas pelas críticas, recheadas de analogias infantis e despreocupação artística. Confesso achar o máximo repetir a máxima de Paulo Francis, de que não li e não gostei, mas é preciso ser muito mais consistente que citar apenas alguns exemplos das fases da narrativa cinematográfica. Enfim, cinema é boa literatura, que à s vezes é necessário ser verborrágico.
Se ao menos tivessem lido os livros, os mesmo críticos poderiam ter sabido o esforço terrível que foi desenvolver uma narrativa num roteiro consciente no meio de tantas lendas e mitos modernos criados por Tolkien. Pois, quando os fãs atribuem a Tolkien, a criação dos Role Playing Games, e seus Dungeons & Dragons, na Caverna do Dragão, referem-se ao ambiente criado, com uma infinidade de pequenos detalhes sobre todos os envolvidos, de todas as raças, de todas as línguas, e todos os credos.
Os livros de Tolkien primam, não por sua originalidade, mas por sua meticulosa criação. Tolkien criou todo o universo da Terra Média, desde seus acontecimentos anteriores, posteriores, nas árvores genealógicas, raças, línguas, credos, aos elementos misteriosos e mitológicos que envolveriam sua própria obra. Por isso a obra de Tolkien sempre foi tão festejada, e não é de admirar-se que o filme de Peter Jackson causaria tanto alvoroço no ano de sua estréia. Esperemos que o segundo episódio cause tanto frisson quanto o primeiro, seguindo a ideologia de que é melhor falar mal, desde que falem de mim.
Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência, e o autor não se responsabiliza por quaisquer danos morais causados por esta crónica. Também é necessário dizer que o autor não faz parte da legião de fãs tolkemaníacos, mas que simplesmente aborreceu-se ao ler críticas irresponsáveis e incompetentes, de quem perdeu a oportunidade em ler um bom livro, e ainda assim proporcionar uma crítica realmente relevante sobre o assunto.
Não espero resposta já que encerraste o assunto Senhor do Anéis. Mas tive a necessidade de expressar-me contrário a todas suas súplicas e réplicas cheias de razão. Apesar de ter toda a razão quando diz que crítica já é pressuposto de negação, ou coisa ruim. Ser crítico é ser odiado. Porém tenho todo respeito por ti. Além de informar que a muitos anos venho trabalhando com cinema, seja como roteirista, produtor, assistente de direção, e tenho montado próprios vídeos. E sabendo que toda teoria tem uma prática, e que geralmente a prática é totalmente diferente de sua teoria, acredito que precisamos de mais críticos que além de terem estudado profundamente o tema, tenham participado em todas etapas de criação da arte a ser criticada. Alguns mais radicais do que eu diriam que os jornalistas, são sempre profissionais frustrados. Discordo plenamente, são apenas profissionais interessados na arte da informação.