Às vezes, na rede entre árvores, em meu refrescante quintal, gosto de embalar-me a contemplar as flores e os galhos que se equilibram ao sabor do vento: parecem braços preguiçosos num abraço descuidado.
Era um momento desses onde a magia do céu por entre os galhos levou-me lembranças de outros tempos.
Meu filho devia ter uns três anos...
Levava-o para a Escolinha e ao passarmos em uma confeitaria ele pediu que parasse:
-Mamãe, compra um doce!
Parei imediatamente, para atender ao pedido do Reizinho.
Escolhido o doce, entramos no carro. Mas, no tempo em que estivemos na padaria, um outro carro estacionou, impedindo-me a saída. Teria que manobrar, dar uma pequena marcha-a-ré, para conseguir um àngulo favorável. Coisa normalíssima não fosse eu tão estabanada.
Mas, na pressa, dei a ré, sem perceber que atrás havia uma árvore. Lá se foi o para-choque, num belo amassado.
Parei o carro e comecei a resmungar.
Meu filhote, olhar assustado com a minha zanga, sentiu-se culpado e disse:
- Fui eu, mãe?
- Não. Mas se você não fosse tão guloso por doces, isso não teria acontecido.
O que não dizem os adultos aos pequeninos para encobrir sua falta de capacidade, nas menores coisas?
Meu filho ficou tão pesaroso que, automaticamente, tratou de dar-me a solução:
- Vou rezar, mãe, a oração que você me ensinou e Deus vai botar o carro inteirinho outra vez.
Aproveitei o incidente para falar ao meu menino sobre as dádivas do Altíssimo:
-Filho, nunca se pede a Deus para consertar carros. Para isto existem os mecànicos e lanterneiros. Se o Pai do Céu fizesse o trabalho, eles iriam morrer de fome.
Expliquei-lhe, entre outras coisas, que não se deve pedir em oração aquilo que podemos fazer, com nossos recursos.
Ele entendeu e ficou tranquilo.
Lembro-me que, desse fato, uma coisa ficou marcada:
Meu filho aprendeu comigo a ter fé. E de tal maneira, que pensava que uma simples oração fizesse reverter o que havia acontecido.
Que saudade deste Anjo Pequenino!