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Cronicas-->Retrato Falado -- 11/05/2000 - 01:26 (Amélia Alves) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos






Do(s) crime(s)? Ninguém sabe, ninguém viu. Restou a medalinha de ouro, a mochila de couro, a mini-saia de brim indigo blue e a cabeleira vasta extendida no chão, enraizada no mato como capim morto por intensas e sucessivas pisadas. E a carteira de identidade, o corpo sujo e roto, a alma penada rondando mistério, as pegadas perdi-das no verde e cinza da cidade grande eram de quem : De Selma, de Và-nia, de Joana, Isadora ou simplesmente Maria? Os sonhos, com certeza, os mesmos. A vida, de verdade, outra.
A moto parou perto, em vóo rasante,e ela nem sequer olhou. Diziam que era bonita e que isso bastava - a beleza se fazia evidência aos olhos , nem sempre tão abertos , mas plenos de muita luz . O sucesso era coi-sa que ia acontecer um dia , não importava como, nem com que ou quem. Podia vir pela mão do príncipe, do malfadado amante ou do ben-feitor. Não tinha cara de quem resistisse a tanto - um out-door aqui, outro ali , um take de biquine ou jeans, de preferência , incluindo nu-dez,despojamento ou coisa que o valha.
Era mestiça - mulata, morena, parda, garota nacional, lourinha bombril. Torceu pela seleção canarinho à beira do Ibirapuera e, então, tudo já era. Camiseta da moda, brinco de personagem de novela na orelha direita . Na esquerda, um piercing qualquer. Levava jeito. Bem que podia ter sido eleita a morena do tchan. No Domingão do Faustão tinha gente muito mais feia do que ela. Olhar no espelho inútil e inde-vassável, sozinha em eternos solilóquios, trazia inexoráveis dúvidas, questões indefinidas e infindas, que só encontravam resposta em suave e fria mudez.
Quando ele parou na avenida e sussurrou ao pé do ouvido doces elogios, a promessa já estava traçada - a carreira fulminante, as fotos nos jornais, a casa com piscina e tudo. Bem que a vizinha avisou do sumiço das moças e ela achou graça. (De gente invejosa, estava cheia!) Foram duas, foram cinco, foram sete, foram nove, foram tantas que a gente se perde nas contas e há quem nem sequer se dê conta, enquanto revisita sua vida _ o dorso nu, calcinhas e sutiãs à vista, enquadrada pelas telas da TV.
A morena de cabelo comprido encaracolado enroscou-se no sonho. Não mais fará fotos nua pra nenhuma revista. Não mais remexerá as cadeiras , revirando os olhos esverdeados, fazendo pose para uma foto qualquer. Ela ficará ali destroçada em sua eterna juventude, despenteada pelo mesmo vento que sacolejou a sua vida . Do rosto desfigurado não se saberá além das ilusões perdidas na boca do lobo.
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