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Cronicas-->Incómodo -- 31/03/2002 - 21:38 (Alberto D. P. do Carmo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Ia dizer que estava com sono e preguiça para escrever uma crónica, aproveitando o tema proposto "do sono e da preguiça". Mas aí pensei: - Tenho certeza de que alguém vai ter essa idéia idiota também. Afinal, todo cronista que se preza já escreveu algum dia, ou escreverá, uma crónica sobre o tema "estar sem assunto". Picuinha, lugar comum, muito cómodo.

E por falar em cómodo, parece que só se faz alguma coisa nesta vida quando há algo que incomoda. E o que incomoda? Além da menstruação nas mulheres, é claro.

A pobreza incomoda, sem dúvida. Mas o que é pobreza, se não um estado de espírito, ou de salário, por que passam reis, elites, políticos, funcionários de alto escalão da Petro, empreiteiras, ou do Banco do Brasil, e outros tubarões, concursados ou não, depois de uma vida inteira a se locupletar na vagabundagem institucionalizada?

Mas a riqueza também incomoda. O que será das rainhas, e das madames que, embora não lutando sumó, precisam de alguém até para limpar-lhes a... Bem, você sabe o que precisa ser limpo. Talvez seja por isso que, nas favelas, vemos aquelas lavadeiras com olhares altivos e mãos esfoladas. Como diria o inventor do calendário: - Nada como um dia após o outro! Ou uma vida. Como na Internet, é navegando que se aprende.

Tudo incomoda. Imagine os velhos alfaiates, que viram suas tesouras sendo trocadas pelas hoje moribundas lojas de departamentos. O antigo freguês, que aparecia no ateliê para medir, depois provar, depois arrematar, passou a desfilar outros ternos com todo garbo, ou Ducal. E agora ainda vira a etiqueta para fora. Deve ser porque ela incomodava no lado de dentro.

O progresso incomoda. Você passa a ser um banana, que vive a apertar botões. Passa a vida zapeando na TV, ou nas pizzas para viagem. Até na hora da transa fica apalpando as costas da amante, a procurar algum botão "pause" na hora mais gostosa. Algo que mantenha o clímax, por puro comodismo. Logo vai encomendar um macaco hidráulico automático em miniatura, que fique jogando sua barriga de baixo para cima, no papai-mamãe, e um cinto vibratório para as reboladas na transversal. Tudo muito cómodo. Só a performance é que incomoda.

E os calmantes que você toma para afastar o incómodo? Tomou Doril, a dor sumiu, tomou calmante, a angústia dormiu! Deixa de frescura, mané! Cai em tudo que é conto do vigário! Só o celular já deve ter trocado, e pago, por um modelo mais "in", umas três vezes, confesse! A propaganda incomoda, faz você não sossegar com o que tem.

Mas o atraso também incomoda. Já imaginou se elas ainda usassem paninhos higiênicos? Se bem que, pelo andar da carruagem, um desses paninhos de La Bunchen seria disputado a tapas pela Sothebys, vai saber. Depois que as pesquisas mostraram que a maior fatia de audiência do Big Brother tem diploma universitário nada mais nos assustará. Mas que incomoda, isso incomoda. Bem disse o Silvio Santos que os universitários não são confiáveis.

Mas, e se da vida tudo se tirasse que fosse incómodo? Se a lei da inércia impera no Universo, se até para caminhar o povo precisa de um chão rolando sob os pés, tirar das pobres lesmas que aqui habitam toda e qualquer necessidade de aprender outro movimento com os pés além de pisar no acelerador, no breque, e nas baratas, seria um pandemónio, ou melhor, uma ausência dele. Nada seria mais incómodo que a comodidade absoluta, para onde caminhamos e jamais chegaremos, visto que a maior qualidade da natureza divina é o bom humor.

Aposto que você, como eu, achou que a chegada da Internet acabaria com todo e qualquer incómodo. Mas aí vieram os provedores lentos, o vírus, o spam. E lá vai nosso braço direito, para os destros, e o esquerdo, para os sinistros, zanzar para lá e para cá.

De uma coisa eu tenho certeza! Seremos uma geração com um braço mais musculoso que o outro, sejamos da esquerda ou da direita. Dia chegará em que só de olhar o braço do camarada você logo saberá com que mão ele pilota o mouse.

E assim a humanidade caminhará, feitos caranguejos e siris de água-doce, com um braço mais forte e o outro sem uso, atrofiado por falta de jeito com a lida no mouse. E ainda assim haverá incómodo, porque os únicos que neste mundo não ficam quietos são os atrofiados, que incomodam, gritam, roubam, arrastam, sujam, fazem barulho. E não nos deixam dormir sossegados.

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