Meia noite, as luzes acesas anunciam o convite da revelação. Não há mais música nos ares do tempo. Apenas os sinos fatais das palavras que golpeiam a alma como um machado. Triste fim ou triste começo? Um capítulo do destino se desfolha em olhos inchados e bocas malditas. Diálogos sem consolação. O tempo que não existe prolonga a madrugada ao dia. Uma vida sem relógio, mas nos ponteiros do acaso se cola em tiras. Nada há para fazer, o que há é recortar o passado e jogá-lo ao lixo. Foi um pesadelo que se transformou em sonho e sonho em ilusão. Agora, reconhece o terror da queda. Descobre a fantasia, despe a máscara e destrói a criação. Tiros nos assombros dos escombros dos ouvidos. Feridas podres sendo consumadas pelos vermes da escuridão. As mãos fantasmas tremem no vão do vazio da madrugada. A TV chia, chia como os insetos, enquanto os lábios gelam no sofá. A porta aberta grita a sua chegada. A dor do silêncio da nudez beija os seus murros. As facas apontadas aos rostos, não cortam como sua língua. Não fica, só fica e fica só. Devaneios dos anseios perdidos na sala. Lutos e lutas se realizam enquanto só resta a vela da oração. Rezas filtrando as vozes libertas do engano. Ave Maria, cheia de graça, o senhor é convosco... Perdoai o assassinato da compreensão. Somente uma reza, uma imagem e uma cruz sobraram ao meio-dia. São quebras e armas afiadas da vida.