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Cronicas-->O Suicídio dos Intelectuais -- 21/04/2002 - 03:44 (salim ibrahim) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A história mais recente do conflito israelo-palestiniano merece ser contada, porque, às vezes, os factos falam por si. Durante o último mandado do Presidente Clinton, foi proposto um acordo, em Camp David, em que mais de 95 por cento das reivindicações palestinianas foram aceites, incluindo a retirada de Israel dos territórios ocupados, o reconhecimento de um Estado palestiniano e mesmo uma partição de facto de Jerusalém. A Autoridade Palestiniana recusou. Porquê?

Mais recentemente, numa conjuntura de possível diálogo, com a chegada do mediador americano Anthony Zinni e com a iniciativa de paz saudita, quatro ataques suicidas consecutivos levaram ao fim do diálogo e ao desespero israelita, com a consequente radicalização militar. Para quê?

A filosofia do terrorismo suicida, assente numa teologia da morte, é a táctica deliberadamente adoptada pelos palestinianos de forma a provocar o desespero de Israel, a radicalização do conflito e, inevitavelmente, um conflito final entre árabes e israelitas. Desta forma, a táctica suicida tem como origem não o desespero mas a esperança, transformando uma questão essencialmente política (territorial) numa luta pela sobrevivência. "Os palestinianos estão tão cegos pela sua raiva narcisista", afirma o colunista do New York Times Thomas L. Friedman, "que perderam a perspectiva de uma verdade civilizacional básica: o carácter sagrado da vida humana, começando pela nossa." No fundo, encontraram o calcanhar de Aquiles de Israel. Como afirma um dos líderes do popular grupo fundamentalista Hamas: "Os judeus amam a vida mais do que tudo, têm pavor da morte e preferem não morrer."

Claro que se pode afirmar que desde o início do conflito as vítimas palestinianas são em maior número do que as de Israel. É verdade. Contudo, e é preciso ter o discernimento de o dizer, existe uma diferença moral muito grande entre a ataque deliberado contra civis (chama-se terrorismo) e incursões militares contra grupos armados que se escondem entre a população civil, fazendo de muitos inocentes autênticos escudos humanos. Por outro lado, costuma ser apregoado que todas as campanhas sanguinárias acabariam, se Israel regressasse às fronteiras anteriores à guerra dos seis dias. Não se pode, evidentemente, prever o futuro, mas esse cenário de paz duradoira assente em concessões israelitas parece ser demasiadamente idílico quando confrontado com as aspirações de muitos grupos fundamentalistas da região. Em última análise, os seus objectivos não acabam com a retirada de Israel dos territórios em disputa, mas vão para além dessa pretensão. O objectivo é o fim de Israel e a instauração de um Estado islàmico na região.

Uma das possibilidades de se sair deste labirinto político assenta na emergência de uma elite política palestiniana com uma visão e uma coragem que, manifestamente, a actual, liderada por Arafat, não tem. À actual Autoridade Palestiniana falta a coragem política de denunciar como assassínio os ataques suicidas, preferindo chamar-lhes mártires. À actual Autoridade Palestiniana falta a visão necessária para ver que a filosofia suicida não vai levar ao diálogo pela força, mas sim, ao fim do próprio diálogo e, consequentemente, ao enfraquecimento da causa palestiniana. Pelo contrário, a autoridade da Palestina prefere fortalecer os laços com os grupos terroristas, como se vê pela colaboração, por exemplo, entre o Hamas e a Fatah de Arafat. De resto, é imperioso destacar que ao longo destas décadas de conflito, os presidentes americanos mudam, e os primeiros-ministros israelitas sucedem-se. Contudo, Arafat permanece. Ele é a eterna constante deste conflito. Porque é que será que esta simples evidência não faz levantar questões?

Se refiro em primeiro lugar o falhanço da liderança palestiniana, não referindo alguns dos erros de Israel no processo, faço-o de propósito. Chegou a altura de denunciar a miopia e o facciosismo de muitos dos chamados intelectuais, sobretudo na Europa, relativamente à questão israelo-palestiniana. Herdeiros do antifascismo, muitos destes intelectuais acabaram por sucumbir, ironicamente, à tentação totalitária, apregoando uma filosofia de verdades absolutas e certezas incondicionais. O simplismo arrogante substituiu a capacidade de reflexão, sacrificando no processo a tolerància ou a tentativa sequer de imparcialidade. Assim, muitas destas personagens ao criticarem unicamente Israel omitindo ou desculpando os actos de terror e a perturbadora filosofia deste culto da morte e suas consequências futuras, demonstram uma terrível e perigosa deformação moral. Não, os fins não justificam os meios e há tácticas que não são aceitáveis ou moralmente legítimas. O intelectual que passa ao lado deste mandamento torna-se cúmplice daqueles que rejeitam este baluarte civilizacional. É o intelectual sem consciência. É o intelectual que, no fundo, deixou de pensar. É o suicídio do intelectual.

Por JOSÉ PEDRO ZÚQUETE

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