O tempo cuidou em apagar algumas impressões. Outras continuam vivas. Dessas, uma volta de maneira recorrente.
Por volta de 1981, após o pára-acelera do engarrafamento matinal, que na época nem era tão engarrafamento assim, cheguei ao Ministério da Saúde, onde batia ponto. Era abril, como agora, e, embora o sol não estivesse encoberto por qualquer nuvem, Brasília parecia mais fria que o costume, . Ali, um pouco antes da entrada daquele prédio e de frente para a lago do Palácio do Itamarati, uma velhinha caminhava pela calçada, em sentido contrário ao do veiculo.
A pele ressecada, sofrida como a pessoa que a vestia, retratava a gente simples de nosso país.
Não sei a razão pela qual fixei os olhos na velhinha, mas o que vi ficou gravado. A velhinha, que caminhava tranquila e feliz, de repente parou em frente uma estátua. Em seguida, como que venerando um Santo, dobrou a perna direita e encostou levemente o joelho no chão, fazendo em seguida o sinal da cruz. Levantou-se, benzeu-se novamente, beijando a medalhinha imaginária, e seguiu em frente, com certeza um pouco mais feliz.
Fiquei encantado, apesar de haver ameaçado um sorriso: na sua simplicidade, quero crer que a velhinha confundiu o personagem retratado com algum santo, mas a estátua era apenas o busto de Osvaldo Cruz.