Ele era o primeiro a chegar ao botequim, assim fiquei sabendo mais tarde. Muito depois aparecia a turma do futebol. Acordavam bem cedo e com a redonda sob o braço do dono, aquele que nunca fica barrado, esperavam o restante da turma, um monte de desocupados, uns sem emprego por motivos diversos, outros na fase do alistamento militar e o restante classificados como vagabundos mesmo, de carteirinha e tudo. E uma vez o time formado seguiam para o campo, onde ficavam até o anoitecer. Ele, ali permanecia.
Até hoje não consigo lembrar seu apelido. Lá estava ele fizesse sol ou chuva. Realmente, aquele homem, muito me impressionava, e mais ainda nos dias de chuva ou melhor, nas madrugadas chuvosas, em pé, solitário, esperando o dia amanhecer e o botequim abrir, abrigando-se sob a minúscula marquise, e o corpo clamando pela primeira dose de pinga.
Não o conheci pessoalmente, porém, dado aos acontecimentos, ficava a imaginar aquele pobre homem, posto de lado por parte ou por toda a família. A imagem que formo e trago até estes dias é a de um sujeito moreno, magro, barba por fazer, cabelos negros e lisos parcialmente penteados para trás e olhos profundos. Devia usar constantemente a mesma camisa, amarelada, que talvez no passado fosse branca e usar a mesma calça escura e calçar chinelos.
Devia conhecer todos os moradores e passantes por aquele bar, ter uma variada amizade, gostar e servir de chacota para as crianças, para a rapaziada do futebol e os frequentadores do botequim, que aliás, estava mais para armazém.
Ficava ali durante todo o dia, tomando sua cachaça até o dinheiro acabar, quando, provavelmente, passava a condição de pedinte, atendido por uns e repudiado por outros, as conversas do principio do dia iam, devido a quantidade de álcool absorvida, tornando-se lenta e enrolada e o corpo, amolecendo gradativamente. Então, já tarde da noite, deslocava-se para casa com o andar vacilante, próprio dos bêbados, ou quem sabe ainda, não tivesse forças para regressar para casa e alguns poucos amigos, compadecidos, o conduzissem até a sua porta.
Imagino que ali não deveria ser, na realidade o seu lar, seria o local do descanso desse pobre guerreiro, para encarar a mesmice do próximo dia.