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Cronicas-->O menino meu pai -- 27/05/2002 - 08:51 (Leonardo de Oliveira Teixeira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O menino meu pai

Leonardo Teixeira

Quem diria! Luiz Augusto Teixeira, um senhor conservador e inteligente, nascido no início da Segunda Guerra Mundial, que brigou com seu neto Ariel no mês passado pelo simples fato de o menino ter colado um trieiro de formigas que seguia de leste a oeste na parede branca da cozinha. Resultado: a parede ficou manchada de formigas coladas, como se fosse cobertura de chocolate granulado em gelatina de leite: "Isso é influência malígna dos frenéticos Pokémons viciantes!". O guri respondeu na bucha: "É arte moderna, vó!"

Na época do Luiz, não havia Pokémons, Digimons, Jáspion, nem outros iluminados, a não ser a saudosa pantera cor-de-rosa, sem falas, só o fundo musical. E olhe lá! Mesmo assim, não faltou a inspiração artística para aprontar as suas. Dona Nair, sua mãe, confirma e assina em baixo. Vou contar algumas interessantes histórias que merecem o registro.

Luiz nem sequer andava, mal sabia engatinhar, e trazia uma mania curiosa: só ficava satisfeito se estivesse com um bico na boca e outro na mão. Durante uma viagem de trem, muito comum naqueles saudosos tempos, o menino levado observou a postura concentrada do pai Ângelo e, encostado na janela, com o trem em rápido movimento, jogou o bico que segurava em sua pequenina mão trem afora, dizendo: "Pai, pega!" Logo adiante, numa fração de segundo outro bico seu ou de seus irmãos era atirado pela janela ou por uma fenda qualquer, legando um rastro de chupetas que marcava o caminho. Como a choradeira era exagerada, sua mãe já estava prevenida: trazia na bolsa uma sacola cheia de bicos.

O menino Luiz adorava furtar frutas nos vizinhos e, mesmo numa precoce idade, fabricava escadas para pular muros, os insignificantes adversários. Desta forma, montou a estratégia, face ao perigo das circunstàncias e da "chatice dos vizinhos", levando duas escadas, uma ficava de fora e outra colocava para dentro. Luiz persuadiu e instigou a ingênua irmã a tomar posse do cargo de assistente. Como boa servidora, a irmã entrou silenciosamente no local, ajudando a capturar goiabas, acerolas, laranjas, mangas, pitangas, entre outras frutas. O vizinho percebeu a presença dos invasores, abriu a porta esbravejando insultos inimagináveis. Luiz saiu correndo feito um raio, carregando as duas escadas, armas de futuras ações, e a irmã, que não sabia voar, ficou presa nos limites do muro, diante do inimigo que espumava o beiço e levantava poeira do chão, feito touro.

A irmã não sofreu uma só vez. Ela amava uma boneca escura, de tecidos velhos, malformada, com uma incrível novidade para uma data senecta: abria e fechava as pálpebras dos olhos castanhos. O Luiz, num ato de ócio ou maldade, talvez os dois, introduziu o dedo indicador - fura-bolo - afundando o olho esquerdo da boneca, deixando-a tenebrosa. A irmã logo veio fazer os seus carinhos diários, quando deu um grito de susto que despertou a brancura das nuvens em sua epiderme: "Mãe! Socorro! Minha boneca está cega!"

A alfaiataria era um serviço nobre, digno e respeitado. Meu avó Ângelo foi alfaiate e farmacêutico. Certo dia, fez uma visita numa costureira antiga, nas redondezas do Setor Coimbra, e a colega de serviço veio dizer que havia comprado uma fita métrica excelente, que não se achava na região. Ela quis mostrar ao Ângelo a fita que estava no quarto das costuras. Ficou boquiaberta quando viu, no meio de tantos cestos, trapos, linhas, agulhas e tesouras, o serviço de Luiz, recortando o último centímetro da fita e o monte de centímetros picotados em pequenos quadrados. Hoje, Luiz vai ler esta história, fingir que não é com ele e passar os olhos nos quadrinhos aí embaixo.

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