Tempestade por dentro. Ventania. E garoa triste e incessante, depois. A cada minuto mais uma gota, e assim mais uma chuva, que aos poucos vai minando o brilho dos dias ensolarados.
Cada partícula de nuvem se torna uma lágrima por dentro. E estes conglomerados de ar úmido provocam trovões, que assustam toda a natureza. A árvore, que no instante brota, a que cresce, e mesmo a que já amadureceu, estas todas acabam se ferindo com os trovões impiedosos. E até aquelas leves brisas, acompanhadas dos raios que reluzem ao longe, sutis, mas assustadores, tornam-se prelúdio de vendavais que devastam o coração da Terra.
E a natureza vai se minando. A chuva que bate na terra erodida, a que se repele na folha seca ou escorre pelo telhado, a que molha os ninhos dos passarinhos... Tudo é fim da fertilidade.
E que loucura, chover todo o dia! É tanta água que o planeta-água se ressente e transborda. Não aguenta. E acaba preferindo secar.
Seca, então; vai secando, até que fica árido para sempre. De modo que nem tempestades ou trovões podem infiltrar-se terra a dentro.
Então a terra seca, esturricada de não mais querer ser invadida por tanta água, já não sente mais qualquer vendaval.
Até que tudo fica banal; a natureza perde o viço. As folhas amarelam, as árvores ressecam, as flores murcham e deixam de brotar, os passarinhos se entristecem.
Só, amigo, que não tem jeito. Terra seca não aceita chuva. Não mais, mesmo que queira. E a natureza nunca mais volta a ser a mesma.
Mas; lhe digo: existem muitos solos e muitas chuvas. Resta saber qual deles vai sobrar e sobreviver aos ataques insistentes dos fenómenos naturais. Ou desnaturados. Você escolhe.