De noitinha, me visto de sol e durmo, brincando de me esconder do tempo, transmutando o que reconheço de mentira, desdobrando o que me vem de verdade.
Com diáfanas mãos, balanceio o equilíbrio normal do que eu não sei, aperto o seio dos sonhos, me agarro aos cabelos desorientados de um pé-de-vento qual fosse eu borboleta ansiosa.
Bebo, na falta das horas, o líquido que fabrico com mel de abelha e saudade, engulo o tempo em que me fiz e nem descubro, criança, as tramas do sol que vira, serpenteia, desnuda.
Encontro um raio que guardei com meus dedos longos que niguém sabe, com minha esperança latente que nem pensei existisse ainda.
Minha capa de ouro desdobra uma bainha de arco-íris, espalhando sentido nas dimensões maiores, encorpando um segredo em meio a cochichos ocultos, solilóquios que me saem sem fala.
Lá fora ficaram os ecos, as fumaças.
Saboreio gotas geladas,"ice-cream", e me enveneno de ser feliz aqui dentro.
Do livro "Vácuo e Paisagem"_ poesia e prosa poética.