Usina de Letras
Usina de Letras
218 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 


Artigos ( 62744 )
Cartas ( 21341)
Contos (13287)
Cordel (10462)
Crônicas (22562)
Discursos (3245)
Ensaios - (10531)
Erótico (13585)
Frases (51130)
Humor (20114)
Infantil (5540)
Infanto Juvenil (4863)
Letras de Música (5465)
Peça de Teatro (1379)
Poesias (141062)
Redação (3339)
Roteiro de Filme ou Novela (1064)
Teses / Monologos (2439)
Textos Jurídicos (1964)
Textos Religiosos/Sermões (6296)

 

LEGENDAS
( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )
( ! )- Texto com Comentários

 

Nossa Proposta
Nota Legal
Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Cronicas-->Talagada Jazz -- 29/05/2000 - 21:24 (alessandro rodrigues da costa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Ele pensou em ligar pra ela novamente, dizer que não era bem assim, que a amava, que precisava dela... mas foi um pensamento breve, passou e ele desistiu, mesmo porque ela já sabia de tudo o que ele tinha a dizer. Sabia e não dava a mínima. Sabia e o tinha mandado à merda. Desligou o telefone, desligou-se dele. Ele que fosse pro inferno, foi o que ela disse.
Ficou ali com os pés sobre a mesa olhando profusamente para o aparelho telefónico imaginando se houvera mesmo a conversa de há pouco. Acendeu um cigarro, pigarreou, colocou uma velha fita K-7 no Philips. Pensou que já era hora de se render ao CD. Descartou a idéia. Puxou um cinzeiro de vidro e esperou. Passou um tempo quase prolixo e aí a música começou. E era Charlie Parker. Achou então que foi um tempo que não pesou esperar.
Pensou em resignar-se. Pensou em ajoelhar-se e rezar o rosário. Pensou em emudecer pro resto da vida. Pensou em outras mulheres e sugou a fumaça pra dentro do peito. Pensou em se matar. Pensou em roubar um banco. Pensou em ver um filme. Pensou em tirar segunda via de identidade. Pensou em comprar um quadro de Gauguin. Pensou em estudar Brahms. Pensou em não pensar em nada e soltou uma fumaça disforme.
Ufanou-se da sua coleção de livros do Borges, todos com capa verde, edição de luxo. Achou sua unha do pé grande demais. Achou-se combativo e hostil ao mesmo tempo. Calculou não haver mais muitos como ele. Concluiu que o Jazz era ainda um dos poucos lampejos de decência da humanidade. Teve pena da história de Rodney King. Marejou os olhos ao lembrar a letra de "O Bêbado e o Equilibrista". Achou graça de pensar em tantos paradoxos. Sentiu-se pedante e sorriu entre o fog do cigarro.
Sentiu fome mas nada fez a respeito. Ouviu de além-da-janela o frêmito de crianças brincando na rua. Teve vontade de ver mas permaneceu ali sentado com os pés sobre a mesa e o cigarro já quase diluído a ponto de queimar-lhe entre os dedos. Praguejou contra a Souza Cruz. Bateuas cinzas no cilindro de vidro. Sentiu náuseas. Quase vomitou. Conteve-se. Suava Frio.
Refletiu sobre sua vida. Lembrou da infància, dos inúmeros álbuns de cromos, das bandeirinhas, jogos de botão, brinquedos Revel, mangás, Capitão Sete, Vila Sésamo, Ultraman, Ultraseven, Shazam & Cia, Joe O Fugitivo, Corrida Maluca. Sentiu seu hálito forte. Entregou-se à brisa que entrava com a noite. Tomou fólego e sucumbiu à ideia de viver ainda um pouco mais.
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui