Alice é mais uma, entre tantas Lobas, aos 41 anos, que ainda acredita no amor. Separada, sem filhos, esperançosa até a última gota de sobrevivência e flamejante como a bandeira do divino em dias de procissão.
No dia primeiro de outubro, ano passado, resolveu teclar pela primeira vez no seu horário de almoço, exatamente à s 12:20 horas e, como para seu espanto, surge um nick, entre tantos, que lhe chama a atenção na segunda frase, porque era diferente de todas as outras segundas frases de seus parceiros virtuais. Como também para sua surpresa, deu o número do telefone, coisa rara, porque não queria ser importunada.
Chegou em casa, com a normalidade de sempre, tirou a roupa, tomou banho, tudo igual como em todos os outros dias e sentou-se em seu sofá... o mesmo sofá que Alice escrevia suas poesias.
Exatamente à s 21:30 horas, seu telefone tocou e uma voz que parecia não existir de tão linda, entoada, surge do outro lado e a Loba, já tão cheia de defesa, respondeu que nem estava esperando tal ligação naquela hora. E passaram-se algumas quatro horas de diálogo intenso. Os gostos, os sonhos, a religião, tudo foi discutido e parecia que se conheciam há várias gerações.
Não teclaram mais, mas o telefone de Alice sempre tocava, depois da meia noite, quando aquele homem, chegava em casa e o coração de Alice disparava, as mãos suavam e tudo o que era de mais belo, aflorava na boca da Loba, até mesmo, desilusões passadas, deixaram de existir, ao som da voz daquele homem, que parecia não ser real. E a doçura que vinha de suas palavras e como poderia, aquele homem, do outro lado do país, saber tão bem de tudo o que acontecia dentro da alma de Alice. Como poderia, aquele homem, ser exatamente tudo o que Alice imaginou durante os 41 anos de sua vida.
Ele falou em amor, almas gêmeas, decepções, perfumes, flores e principalmente sobre as orquídeas que tem em sua casa. Aliás, o que mais chamou a atenção de Alice foram à s flores do amado, a delicadeza de sua alma, sua espiritualidade, sua maneira de conduzir a vida, a certeza do seu amor.
Algumas noites depois, começaram a se amar por telefone... e ele descrevia os seus desejos e Alice chorava do outro lado da linha, sem que ele percebesse... porque o homem era sensualmente maravilhoso, sua forma de amar, sua intenção de amor... cada noite ele era mais intenso... e duravam horas os tais telefonemas. Alice já dormia duas horas por noite, das oito que costumava dormir normalmente e acordava feliz da vida e escrevia e-mail, ao acordar e ao meio dia, provocava aquele homem, com mais e-mails, cartões e poesias, pra que ele soubesse o quanto ela já o amava.
Alice nunca pediu sua foto, não importava o que ele aparentava ser e sim o que tinha dentro de sua alma. Alice já o amava, principalmente quando ele mandou os seus poemas, pois além de tudo, o homem ainda era poeta. Ele já a conhecia, foto meio antiga, mas dava pra ter uma idéia dos olhos de Alice, sendo que pra ele, era isso que interessava.
Alice tirou fotos recentes, convocou sua afilhada pra fotografar. Algumas ousadas, outras bem simples, só pra ele poder visualizar. E Alice viajou por entre nuvens, ganhou presente de amigo secreto na Empresa e escreveu pra ele, dizendo que era o primeiro presente de sua casa, a casa que iriam montar... e por aí se ia a relação, fazendo planos, confessando segredos, se desvencilhando dos medos que uma relação pode causar.
Alice aguardava desesperadamente a sua viagem, no mês de janeiro, mês provável de sua vinda e passou fevereiro, março, abril, maio e estamos em junho... Quando será que Alice vai deixar de esperar???
Conto de um amor que por encanto, não chegou a se concretizar...