VAMOS ÁS COMPRAS.
(por Domingos Oliveira Medeiros)
Não se discute a validade científica das pesquisas. Mas, entendemos que da maneira como elas vêm sendo utilizadas, aqui no Brasil, com o agravante dos profissionais marqueteiros, que transformam os candidatos em verdadeiros produtos para consumo imediato, o problema passa a ficar mais sério, mais complexo, merecendo, salvo melhor juízo, atenção redobrada da parte da Justiça Eleitoral.
Na verdade, trata-se de procedimentos que envolvem nosso futuro; e o presente, no mínimo, de nossos filhos, netos e bisnetos. Um erro de avaliação, que abra espaços para a persistência de vícios - ou erros no processo eleitoral -, inviabilizará e tornará inócuo todo o esforço produtivo que se fizer no sentido de galgarmos o tão almejado sonho do desenvolvimento económico- social sustentado.
Vale registrar, logo de início, que nunca fomos consultados por qualquer desses institutos de pesquisas. Nem conheço amigos ou parentes que o tenham sido. Não tivemos, portanto, o privilégio, digamos assim, de compor os cerca de 2000 entrevistados (geralmente é esse o número da amostra), que teriam respondido à s indagações contidas nos questionários de pesquisas eleitorais. Aqueles em que seus resultados são divulgados com ampla cobertura da mídia, que o anunciam com a célebre frase: "Se a Eleição Fosse Hoje", seguida dos percentuais obtidos pelos candidatos.
Igualzinho, tais pesquisas, à validade que é posta em prática durante as famosas promoções dos "Mc Donald´s", dos "Habib´s", dos "Bob´s" e de tantos outros fast foods deste país, quando oferecem comida rápida, para consumo imediato, a preço baixo; ironicamente e coincidentemente para quem não precisa de tanta pressa para comer. Muito embora, tal como lá, não alimentem os eleitores com os esclarecimentos necessários para o voto consciente.
Lucro, diga-se de passagem, única razão dos exíguos prazos de validade das pesquisas, que se renovam quase que diariamente, no intuito de aumentar a propaganda e a venda dos produtos, inclusive a partir de promoções de candidatos, que são mudados de posição, em cardápios variados, para motivar os consumidores.
Melhor fariam, por exemplo, estes institutos de pesquisas, se publicassem as regras e os critérios utilizados nas pesquisas, via Internet. Seria, pelo menos, mais transparente e democrático. E com amostragens bem mais significativas.
Naturalmente sem qualquer obrigatoriedade de participação. Aos interessados, seria solicitado, apenas, o nome e o número de seu título eleitoral. Tenho certeza de que os resultados, em relação aos até aqui apresentados pelos institutos, seriam outros. Talvez aí resida o desinteresse pela utilização da internet.
Achamos que o que não deve continuar é a chamada "fulanização" das pesquisas; que não prioriza o debate de idéias. E sem a exposição dos candidatos sobre temas de interesse da população, em geral, não se pode mensurar nada de proveitoso.
Ficamos, a rigor, à semelhança das agências de matrimónio, onde o retrato do candidato ou candidata é apresentado tal como um produto para consumo: envolto em bonita embalagem, com seu conteúdo escondido pela máscara da propaganda enganosa, até que alguém, movido pela paixão, e, portanto, alheios à s cautelas ditadas pela razão, de repente, diante de um belo "produto", desse um salto da cadeira e gritasse: "Encontrei minha cara-metade política". É esse, não tem conversa"...na alegria, na dor, na desgraça, e até que a morte nos separe ou que termine nosso mandato!...".
A conclusão óbvia, ante o até aqui exposto, resume-se na constatação de que, insistir nestes questionários significa manter a desinformação e o desvirtuamento do objetivo principal da eleição, o voto consciente. Direcionada pelos institutos de pesquisas, seus resultados, na verdade, apontam para uma opinião sem opinião. Analfabetos políticos e fanáticos por jogos, apostarão, sempre, no fulano que estiver melhor cotado, segundo as pesquisas.
O máximo que poderá acontecer é uma zebra aqui ou acolá. Mas zebra em eleições, com todo este aparato de marketing, infelizmente, não é todo dia que acontece. Tal qual na corrida de cavalos. Cria-se um pretenso favorito, que é sempre bem cotado, mas que, no final, acaba perdendo o páreo. No dia da corrida, a "zebra" aparece e surge o azarão para garantir o prêmio aos grandes apostadores, geralmente os mais bem informados e afortunados.
Não podemos continuar com este mercado de candidatos. Candidatos-Produtos. Trabalhados por marqueteiros profissionais, que dizem o que eles devem pensar, vestir, falar e até a hora e a maneira de sorrir. Nossas chances de acertos nos jogos eleitorais passa, necessariamente, mais do que nunca, pela educação.