Gostava de frases de efeito, utilizava sempre palavras de uso raro, era vaidosíssimo, em suma,revelando uma intelectualidade de almanaque, uma cultura auricular insuportável(adorava ler a orelha dos livros para se exibir nas rodas granfinas, arrotando uma erudição que inibia os demais participantes.
Fora isso, tinha uma mania de usar a cada dia uma roupa nova, revelando um narcisismo que lhe causava grandes preocupações: será que sou louco? Por qual razáo sou tão vaidoso?
E há sempre um grande dia na vida das pessoas. O nosso intelectual ganhou de pessoa amiga uma camisa de mangas curtas, com largas listas verdes degradê. Achou-a um tanto ou quanto espalhafatosa, "cheguei", mas, ainda assim, resolveu usá=la, exatamente, quando se dirigia `a casa da namorada.
Então, tomou um belo banho, vestiu a calça de linho acetinado branco, os sapatos pretos de verniz e, para complementar, a camisa verde degradê.
Deu sinal, o ónibus parou, subiu e, quase desistiu, mas, não podia fazê-lo pois havia outros passageiros querendo subir...O trocador, com a boca escancarada num sorriso meio banguela, meio obturado a outro, estava inteiro à sua frente usando uma camisa exatamente igual. Pagou a passagem, passou batido pelo trocador, deu sinal na parada seguinte e desceu indignado.