Os tempos desabaram num tropel frenético sobre os ombros frágeis de quem já vinha debilitado por meses de sofrimento.
Olhava com os olhos compridos para as coisas ao redor de si e, é lógico, para aquela pessoa amada cuja angústia era o foco desencadeador de tanta amargura.
Sentia uma apertura no peito, como se tudo por dentro fosse explodir, mas o coração resistia e, quando se dirigia ao médico com medo de morrer, o esculápio lhe dizia: a sua saúde vai muito bem, você tem execelente coração.
E assim passaram-se sete longos meses...são sempre longos os dias de sofrimento porque, segunda a lenda, quando Zeus anunciou que iria dividir e distribuir as horas, logo se apressaram os jovens, os sadios, os felizes, e receberam as libélulas, mas, quando chegou a vez dos doentes, dos velhos e dos infelizes, já não sobravam asas e tudo quanto receberam foram lagartas com o seu lento arrastar, daí porque as horas dos jovens, saudáveis e alegres voam como as libélulas e as horas dos velhos, dos doentes e dos infelizes, arrastam-se lentas como as lagartas.
De repente, no funil do tempo, brilhou um arrebol! Tudo se resolveu de inopino. O sorriso voltou a afivelar os lábios da pessoa amada. As horas, que pareciam paradas, começaram a alçar um vóo supreendente. Deus seja louvado! A alegria voltou.