Aquelas cores, por alguma razão, exerciam um fascínio incontrolável sobre o rapaz. Era vê-las e, imediatamente, como se fosse uma reação automática, desencadeava-se o tremor das mãos, o suor frio na testa e a dificuldade de falar e de andar.
Procurara o médico, mas, tudo fora inútil. O médico, um mercenário que cobrara uma consulta de 280 reais, inventara no ato uma alergia a cores, como se as cores, somente pelo olhar da pessoa, pudessem trazer alergia.
Naquele dia, resolvera desafiar o estranho fenómeno e ficara, horas a fio, olhando fixamente para aquelas cores tão harmoniosas e belas. E comentara para si mesmo: não pode ser, é tudo invenção daquele médico de uma figa. Assim, então, as horas desfilaram rapidamente, até que soou o sino da igreja anunciando a meia noite.Marchou firme para o beco, sem medo de assombração. Lá, entre os abrigos abandonados, vislumbrou um espectro. Aquelas cores estavam presentes nas paredes e no asfalto... aí, então, começou a chover...e ele não teve tempo para mais nada, deixando as cores num abandono desnecessário, totalmente desnecessário.