O jovem entrou na empresa como estagiário. Trabalhou seis meses sem receber um só centavo. Mesmo assim, era um funcionário dedicado. Absorvia serviços, extrapolava o horário de expediente. Ao completar o sexto mês, o chefe veio felicitá-lo. Tinha sido efetivado. Agora era funcionário da empresa, não um simples estagiário.
Com a distinção recebida, como ia ter coragem de falar nos atrasados? Continuou se dedicando. Mais seis meses sem ver a cor do dinheiro. A empresa precisava de sua abnegação. No ano seguinte já era chefe de equipe. Ordenado zero. Como receber, se sua função era enxugar o quadro, diminuir despesas? Nisso conseguiu sucesso, era o próprio exemplo vivo de que um empregado pode muito bem viver sem onerar a empresa.
Para completar sua dedicação renunciou ao direito de férias. Pra que férias se não tinha ordenado para gastar? Precisava pensar unicamente em sua carreira profissional. Nas poucas horas que lhe sobravam, montou uma fabriqueta que fornecia matéria-prima aos patrões, a preço abaixo do custo. Levava na cabeça, mas a empresa alargava sua margem de lucro.
Em pouco tempo virou chefe de departamento. Se recebesse algo, seu salário seria um dos maiores da firma. Estava cheio de moral para cortar benesses e vantagens dos subordinados. A empresa crescia, e ele crescia junto. Não demorou muito, chegou à vice-presidência. Um belo exemplo de dedicação: nunca recebera um centavo. E começara na empresa como estagiário - informava solene aos mais jovens.
Quando o conselho deliberativo quis lhe oferecer a presidência, recusou. Na presidência não podia receber o mesmo de atualmente, ou seja, nada. O conselho não abria mão, desejava remunerá-lo. Tinham de pensar na imagem da empresa. Despesas de representação, jantares, moradia. "Pelo menos um salário-mínimo, aceita?" Ele negava obstinadamente receber alguma coisa. O caso, agora, está na Justiça do Trabalho.