O espaço em branco à minha frente e uma insopitável vontade de escrever alguma coisa, mas sobre o quê? A situação político-económica do país? As promessas dos candidatos? Os salários que despencam no mundo inteiro? O mercado plenipotenciário que tudo corrompe e tudo destroi? A violência urbana que cresce desmusuradamente em todas as cidades de grande e médio porte? A derrota dos penta campeões para a equipe do Paraguai?
São tantos os assuntos, cada qual o mais eletrizando e explosivo, que eu fico parado, inerte, absorto em pensamentos distantes, sem saber por onde começar nem qual escolher.
Então resolvo falar de coisa nenhuma, do óco que cresce dentro das coisas que foram sérias neste país. Está óca a verdade, porque as pessoas andam escamoteando-a a todo instante; está óco o mercado, porque insaciável na sua sede de lucros e de expansão; está óca a sociedade que vê crescer a violência e nada faz para contê-la, já que a maioria percebe quais são suas raízes.
Está óca esta crónica porque deveria ter solidez mas, fruto das mãos vazias de um cronista de província, nada tem a acrescentar no cenário de um mundo que se esfuma no ar.