Ontem, já noite, fui à padaria.
Saí a caminhar, calmamente, não tinha pressa.
Distraída, não percebi que me seguia um cãozinho. Sarnento, magrelo, uma coleira de barbante, caindo aos pedaços, toda sebenta.
Mecanicamente, estalei-lhe os dedos e ele acompanhou-me.
Eu parava, mandava-o voltar, mas o infeliz não me atendia: parava quieto e, quando eu dava por mim, lá estava ele, bem próximo...
Não sei por que razão, este cãozinho sarnento
fez-me lembrar de minha amiga Sal.
Não que eu compare Salete um cão sarnento, o que de modo algum a ofenderia, tenho certeza, visto o seu amor e respeito pelos ilustres animais.
Passou-me pelo pensamento um "flesh": vislumbrei o canino em uma bacia de água morna, com desinfetantes medicinais, para limpar todo o cascão, provocado pela sarna.
Antes que a idéia tomasse luz, eliminei-a. Os dois tiranos que tenho em casa iriam inflamar-se contra.
Isto, sem falar da Bia, minha cadela-filha, que tem ciúmes mortais de mim...
Trouxe-me à realidade o barulho de um automóvel. Já estava na padaria e pedi:
seis pães e trezentos gramas de salame.
Ao virar-me, nem é necessário dizer quem estava lá, Ã minha espera...
Cheguei ao portão de casa com apenas quatro pães e a metade do salame.
Entrei e fui servir o lanche.