Qual o brasileiro que nunca bateu uma bola ou que nunca experimentou fazer um golzinho, um só, em toda sua vida? É claro que nas peladas em que o escore pode alcançar 35 x 28 existe maior chance de gol por cabeça. Às vezes, até o goleiro...
Também tive meus momentos de sacudir as redes (exagero, nas peladas de jovem não havia rede), era uma criança normal. Cheguei até a ser um bom chutador, treinado nas brincadeiras de cobrar pênaltis. Além do mais, tinha bola em casa (fui um dos conhecidos "donos da bola") e podia chutar à vontade.
Certa vez, num jogo de escola, peguei a bola no meio de campo, baixei a cabeça e corri com ímpeto em direção à zaga. Passei pelos adversários sem que ninguém me detivesse. Entrei sozinho na boca do gol, lá vinha o meu chute potente. Quando ergui a cabeça, estava cara a cara com o goleiro de meu time. Isso é normal. Desorientação espacial. Mas provavelmente foi o que acabou com minha curta carreira de jogador.
Gols já fiz muitos ( ou poucos, que seja!). Mas houve um que me marcou de verdade. Retrocedamos à era paleolítica. Era uma partida entre o time de meu colégio - o Stela Matutina, de saudosa memória - e o time dos sacristãos, no campinho situado no topo do morro do colégio. Só de subir o morro, já não se precisava mais fazer aquecimento. O jogo ia para o final e nada de gols. Na certa, o time deles tinha sido benzido pelo padre. Além disso, seu goleiro era o Horacinho, um dos melhores. Enxerto, lógico; o Horacinho nunca foi sacristão. Num último ataque, nosso centroavante, o Alfredinho (certamente nem ele mesmo se lembra desse jogo), entrou na área e chutou; o beque rebateu o chute e a bola veio rolando. Eu, que corria o jogo todo sem pegar na bola, notei que a dita cuja vinha, por acaso, em minha direção. Mesmo arriscando ser excomungado pelo padre, dei uma estourada, bola alta, e o goleiro não conseguiu pegar. Gol? Houve controvérsias, não havia traves nem rede para se ter certeza. Aí, o Horacinho confirmou: foi gol mesmo! Naquele lindo dia primaveril, tornei-me o herói do jogo.