É tarde, muito tarde, reconheço, mas a esperança está comigo, palpitante, viva, com a sua luz votiva e com todas as promessas que nos dão o alento para prosseguir.
Sei, o cenário é desolador. As flores, por falta de rega, emurcheceram, as pétalas comburidas já perderam a cor e o perfume. A erva daninha começa a tomar o espaço. Fugiram dali as borboletas trêfegas, os colibris e as abelhas.
O lugar parece entregue ao abandono. As mãos caridosas do jardineiro já faz um tempo largo não aparecem por ali, para dar uma atenção dirigida a cada arbusto, erradicando a erva má, adubando os canteiros, conversando amistosamente com as plantas como se elas fossem gente.
É tarde, muito tarde, repito, mas a esperança me acompanha passo a passo, dá-me o direito de sonhar com a volta das chuvas e o retorno do jardineiro com as suas mãos de mago.
Este direito de sonhar eu não entrego a ninguém. Posso repartí-lo com as pessoas que me querem bem e que eu quero bem, mas não vou deixar que o tomem de mim.
É tarde, muito tarde, eu digo pela terceira vez, mas com a esperança me fazendo companhia posso afirmar que o quadro sofrerá mutações inimagináveis, as flores voltarão a desabrochar, os pássaros, as borboletas e as abelhas regressarão com as suas cores e o seu encatamento.
Quem for vivo e tiver olhos para ver não perde por esperar.