PARA PENSAR NO DOMINGO ANTES DE DORMIR (e dormir tranquilo).
SEXO É BOM E FAZ BEM À SAÚDE?
Liberou Geral ou ainda tem puritano defendendo antigos valores?
Volta e meia acontece uma onda de indignações que se levanta contra a exploração das cenas fortes de sexo na TV e no cinema, e por extensão, põe em xeque as tendências liberais da sociedade emergente do extinto século XX, cada vez mais licenciosa com a questão da sexualidade, a liberdade de opção sexual, a abertura para tratar, abordar e discutir todo o comportamento social da nossa era new terceiro milênio. Cada época tem seu código de valores.
A sociedade é heterogênea, abriga valores díspares e diferentes, e cada região tem mais ou tem menos abertura para determinadas questões. A TV por sua vez, cada vez mais globalizante, assim como o cinema, não considera tais diferenças regionais e avança barreiras buscando captar o foco de atenção e ser espelho das mudanças que ocorrem.
É uma verdade que os jovens que fizeram a revolução sexual nos anos 60, que viveram o movimento hyppie, o flower/power do amor livre, hoje são pais com meio século de existência, pais e mães de outros jovens que encontram em casa, na educação que recebem, muito mais abertura para poder ver e viver o mundo sem muitos filtros ou véus protetores, sem padrões de falso moralismo ou preconceito.
Por sua vez as igrejas e suas religiões também passam por um processo de revisão para descobrir como estabelecer padrões de normalidade, tendo em seu interior muitos conflitos ainda em ebulição, e por isso mesmo, com dificuldade de estabelecer diálogo com seus fiéis seguidores, num assunto tão complexo. Mas ainda assim, e justamente por isso, as pessoas discutem muito o que seus filhos podem ou não podem ver na TV e no cinema.
No cinema, nos videogames, desintegrar corpos, explodir e metralhar pessoas, detonar edifícios, são um orgasmo quase constante e receita certa de sucesso. Mesmo que a realidade à s vezes imite a fantasia e atinja o mundo com sua aguda agressividade.
Também se mostram, cada vez mais, os detalhes realistas das cenas de sexo. E enquanto isso, a TV aberta, intrusa desejada em todos os lares, vai exibindo o que os personagens das novelas, das mini-séries e dos filmes, imitando as atitudes de pessoas da vida real, fazem nos seus envolvimentos amorosos e nos relacionamentos sexuais e nas suas preferências e opções. Presenças de Anitas e Engraçadinhas encantam e levantam a audiência. Todos sabem que assim se faz na vida real, mas não gostam que fique assim exposto na TV para quem quiser ver. E isso porque entre quatro paredes as pessoas fazem as coisas que gostam, mas consideram pecaminoso ou condenável que se exponha como imitação da realidade e detestariam assumir abertamente que são e agem desse modo. Ao mesmo tempo buscam satisfazer desejos e fantasias que jamais admitem ter. E menos ainda querem que seus filhos vejam que as outras pessoas também têm os mesmos comportamentos.
Até o topless tão sadio e assumido já tomou as cores de transgressão há bem pouco tempo atrás, e alguma parcela da sociedade ainda tenta reprimir ou condenar agredindo seus adeptos. Patético? Complexo?
Basta ler relatos publicados de leitoras sobre a sua realização das fantasias femininas.
É assim que é. Nós temos que estar abertos para encarar e discutir tudo isso sem preconceito. O que isso tudo nos coloca é a questão do julgamento da sociedade sobre o que é certo ou errado fazer.
A mentalidade das pessoas ainda não mudou mesmo quando está mudando o seu comportamento. Existe hoje uma infinidade de opções que permitem que as pessoas tenham acesso a muito mais informação, principalmente sobre comportamento sexual.
Revistas e publicações de todo tipo sobre quaisquer assuntos, como aquelas especializadas em gays, lésbicas, sado-masoquismo, sexo bizarro com animais, ou mesmo o normal sexo explícito em lições didáticas, para não falar aquelas destinadas a grupos de interesse específico como encontro para troca de parceiros, swing e coisas do gênero.
Nos bares e boates da moda, estão mais comuns as mulheres que namoram mulheres, os triàngulos amorosos, as dançarinas eróticas, call girls e rapazes strippers, shows explícitos de sexo, e muito mais.
Nas videolocadoras as seções de vídeos e filmes eróticos ganham cada vez mais espaço, e pouca gente se assusta ou acha estranho se alguém levar entre os títulos que aluga para seu final de semana, algum vídeo mais erótico ou de sexo explícito e até de sexo com travestis. Isso está Ã disposição de todos e ao alcance dos jovens. E eles assistem, vêem, lêem e comentam. Eles estão mais livres e preparados que os adultos de hoje para processar tudo isso e entender.
Na Internet (e cada vez mais gente tem acesso a ela) existe uma democracia absoluta de ver quaisquer assuntos e temas, imagens e textos.
Nos classificados dos jornais, os garotos e garotas de programa são anunciados como qualquer artigo normal, acessáveis para oferecer sexo seguro e profissional para quem precisa comprar aquele serviço sem querer outro tipo de envolvimento.
Nas revistas em quadrinhos, nos desenhos animados, até nas ilustrações de contos de fadas, aparece e transparece o erotismo latente, a sensualidade que vai aos poucos se tornando normal e assumido.
Na moda, e nas passarelas, toda a sensualidade dos tecidos transparentes, das roupas justas, as fibras que modelam o corpo, os umbigos de fora e decotes generosos forçam as pessoas a dar mais atenção à estética do corpo, das formas esculturais.
As academias então, viraram os templos da cultura do físico "malhado", trabalhado, esculpido, "sarado"
Os programas humorísticos na TV e ao vivo, suas piadas, as estórias, estão cada vez mais concentrados nas questões do sexo, das tendências, das opções, das aberrações e das fantasias. Cuecões de couro e Pitbichas pululam na tela no horário juvenil. Isso se generaliza e se torna comum.
Estamos mais abertos e permissivos e as coisas acontecem assim numa onda crescente.
Entretanto, existe quem queria resistir e combater essa liberalidade. Muitas vozes de conservadores, paladinos defensores de um moralismo puritano, se levantam e gritam: "PORNOGRAFIA", "IMORALIDADE", "FALTA DE VERGONHA", "DE PUDOR", "DE VALORES", etc...
Em contrapartida, quem é que questiona se é falta de pudor colocar uma cena de comercial publicitário onde o PUDIM SUCULENTO ou o SORVETE CROCANTE DE CHOCOLATE E CREME faz surgir água na boca desdentada dos milhões de famintos, sem teto, sem emprego, sem chances, mas que assistem a TV debaixo de viadutos interrompidos?
Será que alguém questiona se é falta de vergonha na cara de todos nós um jornalista político em pleno horário nobre comentar convencido que um escàndalo de corrupção no governo vai "acabar em Pizza?" E O PIOR É QUE QUANDO ACABA FICA POR ISSO MESMO!
Quem será que questiona se é imoralidade descobrir e constatar que um governante nacional precisa lotear áreas de decisão e poder de seus ministérios ou secretarias, para poder administrar o equilíbrio das forças que compõem as bancadas no congresso? Não seria Loteocracia em vez de democracia?
Quem será que questiona se é pornografia mostrar na TV ou no cinema o que se faz com pessoas civis numa cidade SITIADA e bombardeada por mísseis "libertadores"?
Quem será que questiona se é lícito comprar direitos EXCLUSIVOS de transmissão de um Evento Esportivo Mundial onde se defrontam equipes esportivas de várias nações?
O Bóris repete, sempre, "É uma vergonha!" Mas, alguém liga?
Enquanto isso, TVs, Cinema, Revistas, Jornais, Publicidade, Propaganda, e outros meios, vão despindo sensualmente seus personagens, seus modelos, seus tipos e figuras famosos.
As mães vão despindo as filhas para as càmeras de TV e para o cinema, para as capas das Revistas, nas passarelas, nos desfiles de moda e de miss, exibindo abertamente suas aberturas pudendas antes preservadas e ocultas em honra da virgindade, na esperança atual que essas filhas se tornem mais algumas "ex-sem terra" mas com milhões de chances de sair da miséria, de ganhar a notoriedade expositiva da mídia, enquanto toda a galera endoida normalmente quando milhares de falsas loiras disputam a chance de esfregar a bunda sensual e libidinosa na cara do espectador e do público, como modelo de dançarina de Axé de banda de sucesso.
As mesmas mães compram máscaras, chicote e corpete para as filhas covers de Tiazinhas e de "Feiticeiras", mas em contrapartida se levantam indignadas em defesa de uma pseudomoralidade da TV, quando um Sérgio Malandro extrapola o vocabulário.
O que é certo e errado?
Está na hora de começar a pensar o que queremos de verdade, o que é hediondo de verdade, o que se deve questionar de verdade. Chega de falso puritanismo e de moralismo hipócrita e preconceituoso.
O que é real é real. O que é bom, é bom mesmo que seja nudez e sexo. E pronto.
O que é ruim, fora agora, mesmo que seja de terno e gravata, bigode na cara, fingindo-se de defensor dos fracos ou de Fardão da Academia!
Infelizmente, quase ninguém está preocupado de fato com o que verdadeiramente interessa. Em época de eleição, todo mundo vira cordeiro e os lobos são os outros.
Como disse alguém, "No fundo, pouco se nos dá que claudique a consorte do muar, o importante é rosetar!", ou "Rosanear". "Não importa que a mula manque, o que vale é o proveito que dá!"
Essa é a triste profanagem da nossa realidade.
Gabriel Salgado