Hoje em dia, "paciência" é o artigo de primeira necessidade mais importante para qualquer brasileiro.
O pobre precisa dela para poder aguentar o estado de miséria e esquecimento em que vive. Ignorado pelo governo globalizante, a cada dia que passa, ele está mais na periferia.
A classe média, apavorada com a pobreza que bate à sua porta, vive equilibrada na aresta vertiginosa da incerteza, da dúvida, do receio.
A tão decantada vida maravilhosa que todos teriam depois da privatização do património nacional, e toda aquela doce vida que a mídia em geral anunciou, e os departamentos de jornalismo das redes de televisão alardearam aos quatro ventos em suas reportagens, não aconteceu.
Mr. Joelmir Betting, o grande mago económico das classes privilegiadas, desapareceu da TV popular, e está falando somente para os seus adeptos que tem dinheiro, e podem pagar para ter uma TV fechada.
Dentro de pouco tempo estes também não irão ter dinheiro, e ele terá que escolher outro planeta para ir fazer as campanhas que a ele são encomendadas pelos grandes grupos empresariais.
O Jornal Nacional da Rede Globo continua fazendo com eficácia, o papel de encobrir os fatos mais importantes que acontecem nos bastidores do mundo em que vivem as pessoas que realmente mandam no Brasil.
A organização semàntica do discurso dos editoriais do JN e os textos das demais matérias do noticiário, que interessam aos donos da Rede Globo, é que vão moldar os tópicos que ficarão retidos na memória do telespectador.
A montagem elaborada das palavras e das imagens, com as suas conotações ideológicas, trabalho que é realizado por pessoas especializadas no assunto, transformam o Jornal Nacional na maior e mais fantástica máquina de lavar cérebros do mundo, em termos de audiência eletrónica.
Resumindo, a pauta do JN continua filosoficamente atrelada aos interesses das elites, e à medida que os governantes vão oferecendo vantagens e resolvendo os problemas desses grupos, aumenta o ataque contra o telespectador, que fica à mercê do editor eletrónico que tem uma astúcia maquiavélica.
Nos jornais de maior audiência da TV Globo, você vê o que as elites gostariam que você visse.
É uma espécie de "pay-per-view", diabólico e à s avessas, surrealista, aonde você ao invés de entrar com dinheiro, é induzido a entregar a sua consciência. É como se o telespectador estivesse caminhando num corredor de espelhos, vendo a própria imagem, onde apenas os seus reflexos mudam, mas conforme o tamanho do corredor, após um certo tempo, o próprio homem começa a mudar.
O JN, raramente, recorre à mentira pura e simples.
Ele usa uma técnica muito mais eficaz, baseada em ênfases e omissões. Os fatos políticos e económicos que servem aos interesses das elites económicas recebem todo o destaque, e o que não interessa é omitido.
É sempre bom lembrar estas coisas, principalmente porque estamos à s vésperas das eleições de 2002, e, infelizmente, o trabalhador nada tem a comemorar, pois todos estão procurando uma saída para não morrer de fome, não cair na marginalidade, enfim, continuar sobrevivendo, tentando recuperar a dignidade perdida.
A TV popular, que deveria ser uma distração, e uma fonte de informação correta para os brasileiros em geral, a cada dia que passa transforma-se mais num tormento, numa coisa angustiante de ser vista e ouvida, pela má qualidade dos programas que elas apresentam.
Os casos de corrupção são denunciados, desde que não coloquem em risco as regras principais que regulam a política e a economia dos grandes grupos nacionais e internacionais.
Cassou-se o presidente Collor, mas a política neoliberal iniciada no seu governo, continua fora de qualquer discussão.
Dezenas de trabalhadores rurais são mortos no interior do Brasil, sendo que apenas uma pequena percentagem destes assassinatos é divulgada em algum telejornal.
O prefeito Celso Daniel, de Santo André, SP, do PT, na semana que passou, foi sequestrado e assassinado com 18 tiros.
O representante dos latifundiários na TV, o Sr. Boris Casoy, quando fala em "Sem Terra", seus lábios se afinam, ficam brancos, o sangue some, a boca fica seca, e mal consegue articular as palavras, tal o ódio que o mesmo tem de pobres.
Os representantes da oposição são fiscalizados em cima, e quando cometem algum escorregão, a notícia vem a público com o maior estardalhaço.
O comportamento é oposto, quando quem está na berlinda, são figuras que o poder prefere preservar.
No livro escrito pelo jornalista Emiliano José, "Imprensa e Poder", em que analisa o impeachment do Collor, ele diz: "A imprensa continua sólida na sua posição de camuflar suas opções políticas, tão evidentes, sob o manto sagrado daquilo que ela arbitrariamente qualifica como notícia, sob a postura olímpica de que apenas cobre os acontecimentos . Nunca admite ter lado, preferência, partido - e ela sempre os tem".
E o filósofo brasileiro Roberto Mangabeira Unger, que dá aulas de Direito na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, afirma: "Nossa imprensa está completamente rendida à ordem estabelecida das coisas".