Hoje em dia, no Brasil, "paciência" virou artigo de primeira necessidade, para todo e qualquer brasileiro que não queira pensar e fazer alguma besteira grossa.
O pobre precisa de toda a paciência do mundo, para aguentar o estado de miséria e esquecimento em que vive. Ignorado pelo governo globalizante, a cada dia que passa, ele está mais na periferia.
A classe média, apavorada com a pobreza que bate a sua porta, em todos os sentidos, vive equilibrada na aresta vertiginosa da incerteza, da dúvida e do receio.
A tão decantada vida maravilhosa que todos os brasileiros teriam depois da doação do património nacional, toda aquela doce vida e berço esplendido prometido pelos agentes da globalização, esvaiu-se nas brancas nuvens de um céu estrelado.
Mas que malditas estrelas são estas ?
São os ladrões do dinheiro público, que vivem eternamente deitados no berço esplendido que encontraram nesta Casa da Mãe da Joana que se chama Brasil.
E até quando participam da farsa de serem presos, eles são incapazes de abdicar, mesmo que seja por poucas horas, da "dolce vita" que vivem, gastando o dinheiro roubado dos nossos bolsos.
O aclamado Luis Estevão, que a nossa mídia chama de empresário (até poucos dias atrás tinha o codinome de senador), foi novamente preso pelos órgãos policiais do governo. Parece que a grande imprensa sentiu que aquilo era mais um show do que outra coisa qualquer, e resolveu não fazer o estardalhaço que o governo queria.
O sócio do Juiz Nicolau dos Santos [continuo falando do Luis Estevão] foi escolhido pelo governo do chanceler Fernando Henrique, para ser o Saddan Husein tupiniquim.
Nos USA, quando a política e a economia interna vão mal, o presidente em exercício arruma alguma encrenca com o Iraque, joga umas bombas em supostos alvos militares, mata alguns civis, e horas depois aguarda ansiosamente o resultado de uma pesquisa popular.
Colocaram na cabeça do americano comum que o Saddan Husein é o homem que pode acabar com o bem estar deles, e assim, todos apoiam o bombardeio, e cresce a popularidade do presidente da grande nação.
Quando o povo americano não apoiar mais os bombardeios ao Iraque, o bigodudo Saddan será uma peça descartável no tabuleiro das armações políticas americanas, e, paradoxalmente, poderá se considerar um homem morto.
Aqui no Brasil, toda vez que começam a destampar perigosamente o esgoto do mundo político e administrativo, os olhos se voltam para o Luis Estevão.
Alegre, afável, simpático, elegante, iradiando juventude e boa vontade, eu me atreveria a chamar o referido cidadão de "o Fernando Henrique do outro lado".
Não me perguntem porquê, nem o que seja isso, mas esta idéia é apenas uma espécie de intuição baseada no "nada".
E o ex-senador parecia estar sempre disposto a cumprir o seu papel. Entretanto, por ocasião desta última encenação da minisérie "Luis Estevão na cadeia", a atuação do artista principal não foi perfeita. Talvez tenha acontecido um erro de direção.
Uma foto estampada em todos os jornais brasileiros, mostrava claramente que o comportamento do "preso" mais parecia o de um alegre milionário despreocupado, lendo um livro, sentado no parachoque de um automóvel, apanhando sol, enquanto aguardava conserto para o seu carro enguiçado na estrada.
E Ã noite nos vimos a mesma cena nos telejornais,onde o referido personagem passeava alegremente no pátio, conversando animadamete com várias pessoas.
Provavelmente o povo acordou, e percebeu que tudo aquilo não passava de uma grande encenação.
O que o Luis Estevão fez, foi como se o ator que faz o papel de Jesus caminhando para o calvário na Semana Santa, largasse a cruz, e começasse a dançar alegremente em direção ao Horto das Oliveiras, cantando uma marchinha de carnaval.
Antes de sair da "cadeia onde não esteve", o empresário fez questão de jantar com os verdadeiros presos que lá estão, fato que provavelmente irá ajuda-lo muito na próxima eleição que concorrer.
No dia seguinte, depois de ter conseguido a liberdade, Luis Estevão apareceu para os repórteres que estavam no portão da sua mansão, acompanhado pelos filhos pequenos, rindo a valer, e mandando a garotada fazer careta para todos os babacas que lá estavam fazendo a cobertura da volta ao lar do ladrão.
E todos que assistiram estas cenas pela televisão, só pensavam numa coisa: "Haja paciência na casa da Mãe Joana!"