Uma camisola verde, quieta num canto. Às vezes jogada ao chão como se alguém atirasse rápido e saísse com outra roupa. Outras vezes, atrás de uma porta ouaté mesmo num cabide.
Uma camisola em vários espaços, atravessando mudança das estações, exprimindocoisas em silêncio.... Uma camisola símbolo de um momento distante, perdido emmeio a pensamentos. Vem a chuva, vem o sol, o vento, as luas, lembranças de umsonho azul, traduzido em cheiro, cor, sabor, desejo. Quem dá por sua presença?Sentem um quê de novo vindo do ontem?
Talvez o inconsciente, porque para vesti-la é preciso coragem para se encararno espelho e sentir voltando a velha ternura, sem sombra de orgulhos, dereceios. Quem sabe, até mesmo uma pessoa melhor para ser tão íntima,crescendo, que se faça mais próxima do real sem deixar de sonhar. Que acrediteser merecedor da felicidade e não se encolha diante de uma janela que dê vistapara uma paisagem meio que inóspita, que enxergue além e procure com os olhosde boa vontade a flor que nasceu nesse cenário. Arregaçar as mangas, quererencontrar.
A camisola continua pendurada, quieta no canto. Coadjuvante/protagonista, panode fundo, figurino da alma, coração e corpo de uma mulher que um dia só quispoder usá-la, merecer essa camisola.
A mulher espera. A camisola espera.
Oferta-se a camisola para outra pessoa? Como, se essa camisola é sua pordireito?
Ajusta-se a camisola...
Ou a mulher?
