Céu cinza, sem sol, sem som. Ouço apenas sussurros nessa manhã que me sobra, por acaso, como mais um dia a invadir sorrateiro meu desejo de não querer que amanheça, mais um dia, sem Sol, sem som, quase sem querer, quase como castigo, brincadeira infantil, de Menino, mórbida e cruel sentença de se abrir os olhos para mais um dia.
Sussurros me contam que não, eu não terei compensação, ou a satisfação de não acordar. Que sim, eu fui lançada aqui, sem chance de volta ou qualquer outra escolha. Sussurros acabam com minha esperança de não ser, de não pertencer, e tentam todos os dias fazer-me conformar, incluir-me, subjugar-me, render-me.
Me contorço por entre lençóis trançados por meu corpo. Lençóis brancos, de algodão macio e cabeceira enfeitada de renda com desenhos de flores. Renda áspera contra meu rosto todos os dias.
Acordo enojada, com alguma ressaca, fome, e dores pelo corpo. Todas as dores de um vivo, que assumo e sinto, quase sem já poder viver sem elas.
Todos os meus males sou eu quem invento, com prazer. Tudo em nome ao repúdio, Ã trapaça estúpida contra esta e todas as manhãs cruéis.