Juan Soto olhou-me daquele seu modo maroto, mas a um só tempo, sábio e, soltando baforadas do seu charuto cubano, exclamou:
- Domingo, caro amigo, teremos uma festa democrática no Brasil. Será um dia invejável! O maior país da América Latina vai dar uma lição ao mundo.
Eu não podia acreditar no que estava ouvindo. Ele, cidadão do mundo, polivalente, irónico, falava com tanta seriedade e tanto entusiasmo na voz que eu disse de mim para comigo: é um excelente ator, é um fingido.
Mas Juan Soto prosseguiu:
- Quando disse que será um dia invejável, estou sendo sincero, caro amigo.Sinto inveja ao ver os preparativos, a urna eletrónica, os cuidados, a remessa das urnas para rincões perdidos na selva, no meio do sertão quente, ignorante, mal resolvido, os eleitores tão contentes e tão esperançosos, as pesquisas, os juízes, as forças que garantirão a tranquilidade dos votantes.
Eu ficava cada vez mais atónito. Eu que pensava naquele mesclado humano como pessoa incapaz de nutrir inveja por coisa alguma deste mundo. E, no entanto, lá estava ele pensando nas eleições do Brasil com uma grande inveja.
Juan Soto suspirou:
- Parabéns, amigo, pela festa do seu país. Oxalá ganhe o melhor, o que possa colocar o Brasil no lugar que merece no concerto das nações.