Sonhos Brasis, Rosa-povo, Nunca Pare de Sonhar, Gravidez
Abilio Terra Junior
Ao som do blues do CD "Force of Nature", de Koko Taylor, deixava-se embalar pelas variações melódicas e pelo ritmo tão vibrante, assim como pela interpretação potente da cantora.
Pensava em tantos anos de vida em comum, o longo aprendizado do dia a dia, os momentos de alegrias e de tristezas, os altos e baixos, os filhos, as dificuldades e os momentos reconfortantes. E como de tudo ficara uma essência, um substrato, que se refletia no olhar de pureza e de esperança, que, apesar de tudo, ainda existia, que apontava para o hoje e para o amanhã, com as venturas e desventuras ainda por vir. E, de como sempre há o segredo em cada coração, intocável, e de como nunca se encontra a resposta final e definitiva, e de como cada vida é tão plena de mistério.
E daí se lembrava das letras cheias de esperança e amor das músicas interpretadas pelo grande cantor, compositor e poeta Gonzaguinha, em seu CD "Grávido" , a começar pelo "Lindo Lago do Amor", tão deliciosa de se ouvir ainda hoje, e sempre, pois as grandes criações nunca se perdem.
Mas, também pela letra de "Rosa-povo", por exemplo, tão adequada aos dias de hoje:
A leveza de uma rosa/ acaba no espinho/ quando o amante endurece/ e força o caminho
ele a toca de mau jeito/ violenta a massa/ há que ter muito respeito/ no trato com a moça
cada toque é um cumprimento/ Ã sua beleza/ cada gesto é entendimento/ da sua grandeza/
esta rosa é sempre-viva/ aquieta revolta
ela dorme e sonha um pouco/ mas nunca está morta
cuide bem da rosa-povo/ senão ela corta/ sempre-viva também sonha/ mas nunca está morta
O mesmo se aplicava à "Gravidez":
Meninos eu vi/ o povo nas ruas/ querendo dar à luz/ para quem quisesse ver/ para quem quisesse/ ganhar o brilho da luz/
meninos eu vi/ o povo nas ruas/ querendo dar o sol/ para quem quisesse ver/ para quem quisesse/ ganhar o brilho do sol
bebi com eles/ a coragem das cores/ na avenida brasil/ aprender a colorir/ ergui com eles um brinde/ ao futuro/ sem o medo brasil/ caminhar e color rir
meninos eu vi/ que luto não é pra chorar/ é um verbo pra ouvir/ feliz
meninos eu vi/ o povo nas ruas/ em plena gravidez/ para quem quiser saber/ para quem quiser ganhar/ os filhos dessa gravidez
Ou, então, Ã "Nunca pare de sonhar" (essa, então, se ajustava como uma luva aos momentos que hoje vivemos):
Ontem um menino que brincava/ me falou/ que hoje é semente do amanhã/ para não ter medo/ que este tempo vai passar/ não se desespere/ nem pare de sonhar/ nunca se entregue/ nasça sempre com as manhãs/ deixe a luz do sol brilhar/ no céu do seu olhar/ fé na vida/ fé no homem/ fé no que virá/ nós podemos tudo/ nós podemos mais/ vamos lá fazer o que será
E, da mesma forma, Ã "Sonhos brasis":
Felicidade eu quero a (fé) liberdade/ para o povo do meu país/ toda riqueza pro menino que é meu país/ felicidade eu digo axé liberdade/ para o povo do meu país/ todo futuro pro menino que é meu país
seu Joaquim seu Zé da Silva/ e também seu Xavier/ tragam o sol/ o alimento o sal/ o sol a fé/ fé esperança/ fé trabalho/ aliança/ pra escolher nossos destinos
força gerais/ sonhos brasis/ povo feliz
Era como se o querido e saudoso Gonzaguinha estivesse aqui, ao nosso lado, vivendo conosco todas essas experiências frustrantes de hoje! E uma prova incontestável de que continuávamos como "dantes no quartel de abrantes"! Que essas belas palavras de Gonzaguinha nos inspirassem a abrirmos novas portas para o nosso amanhã!
"Lindo lago do amor":
E bem que viu o bem-te-vi/ o sabiá sabia já/ a lua só olhou pro sol/ a chuva abençoou/ o vento diz ele é feliz/ a água quis saber/ porque pourqui pourquoi será/ o sapo entregou
ele tomou um banho de água fresca/ no lindo lago do amor/ maravilhosamente clara água/ no lindo lago do amor