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Cronicas-->Um dia, uma pessoa -- 01/11/2002 - 03:15 (Ligia Helena) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Abrir documento em branco... como assim, documento em branco?! Já dizia meu velho dicionário Michaelis: documento: s. m. Escrito ou objeto que serve de testemunho ou prova, constituindo um elemento de informação. Escrito. Logo, não é em branco. No entanto, quando vamos pegar uma folha branquinha no Word, lá está ele: "Abrir documento em branco". Não é um documento! É só uma folha branquinha! Que coisa!
Mas enfim. Fui eu abrir um documento em branco para transformá-lo num documento preenchido. Fui atualizar meu currículo. Ai, que desgosto. Pensar que aos dezoito anos a maior experiência profissional que tive foi ser recenseadora de um projeto do governo me dói no fundo. Quando pequena, sonhava com meus dezoito anos como a glória completa. Estaria dirigindo um bólido ronronante, cercada de amigas e com um namorado bacana ao lado. Viajaria pelo país, e quem sabe, pelo mundo! Teria um emprego que explorasse o que eu tenho de melhor, seja lá o que fosse. E hoje em dia, nem ter algo de melhor eu tenho! Tenho um namorado e amigas, mas não tenho dinheiro para viajar pelo mundo. Ah, como as crianças são ingênuas.
Estudando o que não tenho como certo, numa faculdade que pouco estimula seus alunos a desenvolverem espírito crítico, que nem ao menos publica seus escritos, nem interessa-se por seus escritos! Dezoito anos, viajando, dirigindo. Nada disso! Continuo pegando o 7598 e saltando em frente ao Cine Belas Artes, descendo a Angélica com pressa enquanto seres com dinheiro, viajados, em seus bólidos ronronantes ouvem funk a todo volume. Ah, se eu tivesse dinheiro... pelo menos meu carro passaria tocando Kátia Bronstein. E não seria a todo volume. Seria num volume para, no máximo, o imbecil que ouve funk parado no sinal da Angélica com a Sergipe pudesse ouvir o que é bom.
Mas não tem nada não. Aumento o volume de meu discman (que não fui eu que comprei, mal tenho dinheiro para pegar o 7598, que dirá para comprar um discman) e sigo andando. Em frente à Buenos Aires quase tropeço em um mendigo. Li na revista que os moradores de Higienópolis proibiram a realização de uma feira de antiguidades na Buenos Aires aos fins de semana. Que bom, não? Se houvesse a feira, talvez aquele mendigo perdesse seu espacinho na calçada.
Andando mais um pouquinho, viro na Avenida Higienópolis. O shopping às vezes é um oásis para mim. Quando não estou com muita pressa sempre entro para ver os lançamentos de CDs, as revistas importadas na Siciliano. Engraçado como as pessoas olham torto se você está de jeans e camiseta. Como se quem usasse jeans e camiseta não merecesse estar lá. Empino meu nariz e sigo olhando os CDs. Eu, jeans, camiseta, mochila de lona, tênis All Star azul de cano baixo. Talvez se eu conseguir o emprego que estou procurando, tenha de deixar de usar esses trajes. Preciso me adaptar ao meio para sobreviver, mas preferia poder trabalhar desse jeito, do jeito que as pessoas normais se vestem. Lembro, num emprego que tive há uns anos, que o gerente vivia mandando eu dar um jeito no meu cabelo. Só porque eu usava ele bagunçado. Dois anos depois, Gisele Bundchen é sucesso com seu cabelo "desestruturado". Eu era fashion e não sabia. Aliás, ninguém sabia. Hoje em dia está todo mundo por aí de cabelo bagunçado. Tolos. Tsc tsc tsc.
Sigo mais uns metros e chego na faculdade. Tradicional rodinha de colegas na porta, e aula. E amanhã será a mesma coisa que hoje, que ontem, que anteontem. E no fim de semana eu assisto TV. Dezoito anos, a glória. Que fracasso.
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