Era sufocante e árdua a caminhada. O suor porejava, a sede alucinava e, no entanto, nem miragem amenizava o cansaço imenso, o desànimo, o sofrimento físico e a dor moral que tornavam a ato de andar um tormento inimaginável.
Pedras ponteagudas lanhavam os pés descalços, o sol dardejava, o vento morno salpicava areia no rosto e nos olhos vermelhos que quase nada podiam enxergar.
A alma estava a pique de desertar do corpo faminto e sedento.
Tudo conspirava para a desistência total e, no entanto, um sopro que saía do íntimo, mas bem, de dentro do espírito, impelia o corpo esfrangalhado para a frente, como se um comandante de braço rijo e forte mandava que os motores trabalhassem a toda velocidade na direção de um rumo traçado sabe Deus por quem.
A vista, de momento a momento, turvava-se por inteiro e o caminho se afunilava, mas era por um breve instante, pois logo o sol faiscava e o olhar se aclarava e as visões do caminho ressurgiam com as cores vivas e distintas.
As forças lhe fugiram de inopino e caiu na areia escaldante. No tombo, uma onda de pó subiu. Dela, no mesmo instante, formou-se um vulto branco, puro, resplandecente. Uma voz suave falou: "Por onde andas, filho? Por quais descaminhos chegaste até aqui? Vim buscar-te de volta ao meu regaço pois sinto muito a tua falta. Sabes que eu te tenho um amor inesgotável e quero que nada sofras.Confia-me a tua vida. Cerra os teus olhos e deixa-me levar-te para o meu Reino. Lá, seguramente, conhecerá a Paz, a minha Paz..."
E a voz foi sumindo, sumindo, enquanto os olhos fatigados do viajor iam aos poucos se apagando...