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Cronicas-->QVO VARDES -- 12/12/2002 - 10:56 () Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
"QVO VARDES!"
andreplacido@bol.com.br


Diz o relato apócrifo que, enquanto os cristãos eram perseguidos, presos e assassinados a mando de Nero, o apóstolo Pedro, em uma de suas muitas viagens evangelísticas, teve no caminho uma visão de Jesus Cristo. O apóstolo, já cansado pela idade, assim perguntou ao Mestre : "Qvo Vades, Domine?", ou seja, "Aonde vais, Senhor?". Cristo respondeu: "Meu povo em Roma precisa de ti. Se abandonares meu povo, irei a Roma para ser crucificado pela segunda vez." Então Pedro obedeceu ao chamado do Senhor e caminhou até a capital do Império onde pregou o Evangelho e também foi crucificado, mas, por escolha, de cabeça para baixo.

A visão, perspectiva e vontade de Jesus Cristo era a de salvar a humanidade por meio de Sua morte e ressurreição. Se acreditamos ser verdade é outra questão da qual não vou me ater agora. O importante é o fato de que não há dúvidas a respeito da clareza daquilo que Jesus pregou como: amar uns aos outros, fazer aos outros o que gostaríamos que os outros fizessem a nós, vivermos em comunhão com Deus, vivermos em paz respeitando uns aos outros etc. Isso tudo que o Senhor se propós a pregar, conseguiu também praticar. Haja vista dois discípulos cujas ideologias, maneira de agir, trabalhos, educação etc., eram completamente diferentes: Mateus e Simão, o Zelote.
O primeiro, um coletor de impostos que trabalhava para o governo romano o qual impunha suas leis e a adoração ao Imperador como um deus desde a conquista da região por Pompeu em 63 a.C. Tal condição caracterizava-se em um verdadeiro sacrilégio para o povo judeu. Mateus seria hoje alguém do PFL, ou seja, "sempre aliado do governo".
Já o segundo, Simão, participava de um "partido" ultra-radical denominado Zelote. As idéias separatistas do "partido" em relação ao governo romano e a irrevogável decisão de se voltar às regras da lei de Moisés, o levaram a ser um dos responsáveis pela grande revolta do povo, a qual culminou na grande dispersão dos judeus para o mundo em consequência da invasão do general Tito na região em 70 d.C. Simão, se hoje fosse vivo, seria algum filhote de Stalin da ala radical do PC do B ou PT.

Jesus fez com que esses dois homens andassem, comessem e congregassem juntos. O Mestre era um homem convergente, um homem pelo qual as pessoas se sentiam atraídas. Fossem ricos, pobres, jovens, velhos e, até mesmo Póncio Pilatos, o qual, na verdade não consentia na escolha feita pelo povo por Sua condenação e crucificação, mas lavou as mãos para que não fosse acusado de proteger um inimigo de Roma.

É óbvio que pelo relato da história vemos que os cristãos muitas vezes não entenderam nada daquilo que o Mestre ensinou. Ou as Cruzadas foram apenas excursões turísticas à Terra Santa? Claro que não! Foi pura violência! Para ser mais atual, quero lembrar as muitas igrejas/seitas, Católicas ou Protestantes, as quais se propagam pelo país prometendo riqueza, empregos em altos escalões, água benta, salvação, perdão de pecados, rosa orada, medalhão de "Santo tal", crucifixos, casamentos perfeitos, sucesso, indulgências etc., em troca de "pequenas doações para a santa igreja". A Bíblia, cujas palavras são verdadeiras para os cristãos, fala em dinheiro para a igreja apenas citando o dízimo e as ofertas, e não as "negociatas" com Deus. Isso é tão ridículo e anti-cristão como foram as Cruzadas. São todas as igrejas iguais? Não. São todos os pastores e padres iguais? Também não. Devemos ter muito cuidado ao falarmos desse assunto pois, em todos os segmentos da sociedade, há aqueles que são sinceros como também há os lobos em pele de cordeiro.

O mesmo se aplica ao Islã. E temos que entender também que, quando os radicais muçulmanos se explodem matando outras pessoas ou quando fazem algo inadmissível como a catástrofe das torres gêmeas em Nova Iorque, é pelo simples fato de que o Alcorão fala sobre a morte em troca do Paraíso. Haja vista a Surata 9: 38, 39 e 41: "Ó crentes, que vos sucedeu quando foi-vos dito para partires ao combate pela causa de Deus e vós ficastes apegados a esta terra? Acaso, preferíeis a vida terrena à outra? Que ínfimos são os gozos deste mundo comparados com os do outro? Se não marchardes para o combate, Ele vos castigará dolorosamente, suplantar-vos-á por outro povo, e, em nada podereis prejudicá-Lo, porque Deus é Onipotente. Quer estejais leve ou fortemente armados, marchai para o combate e sacrificai vossos bens e pessoas pela causa de Deus! Isso será preferível para vós se quereis saber". Ou também na Surata 9: 111 e 113: "Deus cobrará dos crentes o sacrifício de suas pessoas e seus bens em troca do Paraíso. Combaterão pela causa de Deus, matarão e serão mortos. É uma promessa inefável que está registrada na Torá, no Evangelho e no Alcorão. E quem mais é fiel à sua promessa que Deus?" Lembro apenas que, nem a Torá e tampouco o Evangelho prometem tais coisas.
Se essa é uma interpretação errónea dos versos por minorias radicais que usam da religião para resolver problemas políticos, económicos, geográficos e de dominação, não é ao que me atenho e sim, ao problema da legitimação por meio do que está escrito. Nesse caso a jihad, ou seja lá o que for, não passa de "asas de ícaro" na busca de um suposto Paraíso.

Pedro, o apóstolo, sabia para aonde estava indo e tinha a convicção de salvar as pessoas e não de mais violência, da qual acabou sendo vítima como o seu Mestre. Aqueles que usam o nome de Deus para matar - sejam os da Santa Inquisição, sejam os da Reforma, sejam os da Jihad -, não sabem e nunca saberão qual é o verdadeiro caminho da tolerància, do respeito, do amor e da vida. Muito menos do Paraíso.
Diferentes de Pedro, carecem de razão, carecem de opção, carecem de estarem prontos para ouvir e raciocinar antes de agir. Carecem do amor!

São verdadeiros "QVO VARDES"!
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