Trimmm...Trimmm...Trimmm... Você não atende. Tuu...Tuu...Tuu... Está ocupado. "Este número não existe...", diz uma voz que não é a sua. Eu tento... E tento novamente vezes mais. Ouço as mensagens que se revezam, entre os "Trins..." e os "Tus...". Mas, a tecnologia criada pela inteligência de um homem não ajuda o coração de uma mulher. A Telemar e Embratel não entendem. A TIM, a MAXITEL e tantas outras também não entendem. Eu só queria te ouvir...
Uma inquietação que me enlouquece faz com que eu me levante. Dirijo-me ao carro, maravilha andante que encurta os caminhos dos que tem saudades. Mas a máquina é fria e não compartilha dos meus sentimentos. O tanque cheio do combustível amarelo não me deixa entender porque o carro recusa-se a sair do lugar. Choro... Vou para um ponto de ónibus, onde fico sabendo da greve dos rebeldes motoristas e trocadores. Maldita sociedade que se importa com salários! Blasfemo contra os céus e caminho...Meus pés latejam numa sandalha apertada. O sangue que escorre dos cantos dos dedos, estouradas as bolhas que se formaram, me impedem de prosseguir. Eu só queria te ver...
Solitária, curando-me das feridas dos pés e da alma, penso em você. Sinto seu perfume espalhando-se pelo quarto. A imagem do seu corpo nu me leva aos pensamentos obscenos. Ouço minha respiração ofegante e penso que é a sua. Sinto o arrepio percorrer meu corpo cansado e não entendo porque. Deixo minhas mãos deslizarem por lugares que só você sabe encontrar. Acho que estou enlouquecendo. Eu só queria te ter...
Mas não consegui te ouvir...Não consegui te ver...Não consegui te ter...Sinto-me impotente frente as forças que controlam os poderes da humanidade de dominar seu próprio querer. Mesmo assim, enquanto em mim existir o sinal da vida, vou tentar. Hoje não deu. Agora não deu. Mas daqui a pouco, amanhã também, eu vou novamente te buscar, te procurar. Porque eu ainda quero...Eu ainda te quero!
