Na Avenida Plínio Casado, bem colado à estação ferroviária, existia o famoso armazém, pintado de azul que lhe batizou. Era da época em que a cidade costumava se vestir de esperança e felicidade. Era assim como o Armazém Brasil e tantos outros de secos e molhados. Naquele tempo era tudo varejão: da banha ao feijão, passando pelas miudezas em geral e em alguns até da maldita, a branquinha. Ou seja, a cachacinha.
Uma passadinha no Azul era praxe para quem voltava do trabalho ou que estava esperando o trem. Sempre havia alguma coisa para levar para casa, um quilo de feijão, um sabão português, uma mortadela, um "durma-bem" para espantar os mosquitos, ou mesmo, uma notícia nova. Motivos para passar pelo armazém existiam todos, se não pelas mercadorias e a famosa água que passarinho não bebe. Os proprietários eram muito queridos por todos. Eram da época que você não era um freguês ou cliente, era um amigo.
O dono do armazém morava na rua General Càmara, onde também morava minha família. Um de seus filhos era amigo dos colegas da rua, e por isso eu também o conhecia. Seu nome era Davi, mas a gente só conhecia como Galileu. Como ele era alto e espaçoso como o personagem da revista do Ziraldo, a Saci Pererê, o Lula também conhecido como Pé-de-Pato, assim o apelidou.
O Waldir, um vizinho nosso, tinha uma turma que costumava sair no carnaval fantasiada com luxo, mesmo nos blocos de rua. O Galileu andava enturmado com eles e teve até um grande ano de glória: travestido de soldado do faraó Ramsés, ganhou o primeiro lugar por no concurso de fantasia do Clube dos Quinhentos.