Há males que vêm para bem, e outros que vão para pior, diz(em) o(s) ditado(s). Pois é, eu realmente gostaria de saber onde encaixar este. Ontem, depois de várias tentativas fracassadas, eu consegui: perdi meu celular.
Ao notar isto tive alguns minutos legíÂtimos de pànico e terror, depois resolvi ligar para ele e surpresa! Alguém atendeu! Eu estava realmente com sorte. Uma bela voz feminina me informa celestialmente que eu deveria partir em peregrinação míÂstica pelo Lago Norte. Ao encontrar CecíÂlia me seria permitido novamente conversar a grandes distàncias de qualquer lugar.
Cecília!!! Este nome sempre foi um nome assombroso e abençoado. Conheci várias CecíÂlias em minha vida, e nenhuma delas conseguiu ser minimamente feia. Parece que há uma lei universal que impede as pessoas de batizar de Cecília meninas que não sejam muito bonitas.
Mas também há algo nas Cecílias que nunca se altera. Elas passam por minha vida por breves momentos (agradável exceção, que confirma a regra, é minha linda sobrinha, por quem sou eternamente apaixonado, assim como todos os que a conhecem), e vão em direção à quela distante região do inconsciente onde moram as mulheres semi-conhecidas e desejadas. Ao mesmo tempo nos arrependemos de não tê-las conhecido melhor, acreditamos que seja melhor assim, mantê-las CecíÂlias perfeitas, sem suor, mau hálito, mau humor ou outro defeito que com certeza elas teriam se pudéssemos conhecé-las de verdade (será?).
Obviamente a tolice humana já botava um sorriso em minha cara, e enquanto caminhava em direção ao celular perdido, ia construindo uma nova Cecília em minha cabeça. E eu iria conhecê-la por acaso, e já sabia seu endereço... Um belo começo! Em algum lugar li ou vi em um filme que estes encontro casuais são as melhores chances de se encontrar alguém que realmente valha a pena (grande tolice que deve sempre ser rebatida com latidos).
Os olhos azuis, peguei da Cecília que encontrei em um restaurante mexicano certa vez com uns amigos. As pernas da CecíÂlia que estudou russo comigo em um semestre na Unicamp. O sorriso era da Cecília enxadrista de Sete Lagoas. Os cabelos, bom, abramos uma concessão, seriam ruivos de CecíÂlia nenhuma (uma breve homenagem a Charlie Brown). A voz, hum... como era a voz mesmo?
Paro em um orelhão, ligo novamente perguntando de novo o endereço, apenas para ouvir novamente Cecília que acha celulares :
-Devo ter anotado errado, desculpe incomodá-la.
Desligo em menos de cinco minutos. Idiota! Mais uma vez não falo sequer meu nome. Sou rápido, eficiente e frio, como um soldado cumprindo uma missão. Já vejo Cecília imaginando o desleixado dono de celular esquecido que esquece o endereço! Merda!
Por fim, a dura realidade se apresenta. Chego na casa e toco a campainha. No lusco-fusco do fim de tarde, Cecília sai de sua casa até o portão. O vulto parece tão bonito quanto qualquer CecíÂlia pode ser, mesmo por detrás de um pastor alemão que rosnava e mostrava três mil dentes não amigos.
- Deve ser você o dono, não?
- Sou, alguém ligou?
- Não...
E ela me entrega o telefone por entre o portão, vira as costas e vai para dentro. Creio que deve ter ainda escutado o meu "obrigado". E lá se vai embora o dono de celular sem nome do mundo de Cecília que acha celulares.
Dois minutos depois, o telefone toca. Thelmo... Ele havia ligado antes e conversado com CecíÂlia, a mentirosa por detrás do monstro canino. Felizmente é um convite para um bar.
Na mesa de bar (o melhor lugar para se terminar qualquer história) percebo o ridíÂculo da coisa. Todos os meus amigos, antes mesmo do oi, perguntaram se ela era bonita, e se eu tinha conseguido alguma coisa.
Pois é! Se você que está lendo não tem um cromossomo Y, saiba que nós, símios do sexo masculino, SEMPRE vamos encarar um encontro casual com uma desconhecida como uma oportunidade de acasalamento. Em especial se tratando de CecíÂlias.
ESPERE! Acabo de pensar! E se ela deixou seu telefone na agenda do meu celular?