A quadra do Carlinhos já estava tomando vulto. Caminhões haviam despejado montanhas de barro que a rapaziada, junto com a garotada, tratava de pór nível na futura quadra de futebol de salão. Enquanto a obra ia avançando, as peladinhas aconteciam a todo vapor. É certo que os pés ficavam pretos de barro, mas a alegria era redobrada.
Um dia, ao cair da tarde, apareceu por lá um índio pedindo para jogar. Era um índio de verdade. Ele até parecia com o curumin do rótulo do Guaraná Antártica. Logo foi providenciada um vaga e, batizado como índio, passou a fazer parte da turma. Costumava ser goleiro. No gol, ele tinha uma jogada incrível: quando espalmava uma bola, caía em càmara lenta. Seus braços apoiados no chão por mãos forteseram flexionados de forma bem suave. Show de bola!
Luís, este era seu nome pagão, tinha chegado lá das bandas do estado do Espírito Santo. Ninguém da turma, sabia muita coisa sobre ele. A turma o achava um cara legal e todos gostavam dele. Não precisava mais nada. Era o nosso índio.
Eu gostava muito de encontrar o professor Luís, até pelo interesse comum no trato dos manguezais. Sim, o nosso índio era graduado. Havia um projeto de estudo na área que abrangia a nossa aldeia, que nós dois já estávamos alinhavando. Ele como mestre na biologia, e eu aprendiz na geografia. É uma pena, ficou para nunca mais. Hoje, o índio convive com seus ancestrais.