Ouço um barulho estridente e contínuo... Toca a sirene... Parece o grito de alguém em desespero. Vejo na t.v. pontos verdes brilhantes no céu negro da morte. O repórter com voz picotada conta coisas que não chega a ver. O homem que manda notícias mostra o fogo dourado e as nuvens de fumaça que se formam ao redor, em um ponto qualquer de um lugar que desconheço. É a Guerra!
Enquanto os quase entendidos tentam explicar o que podem causar uns e outros artefatos que custam milhões, me apego ao barulho da sirene. A sirene chora... Na t.v., aviões e tanques de guerra parecem de brinquedo e são exibidos como em filmes de ficção científica. Mas a imagem que me estonteia é a de grandes tecidos encardidos pela vida correndo em uma fuga sem rumo. Por baixo dos panos sem cor, vejo que esqueletos encobertos de carne, músculos e pele tentam também ser gente. E fogem...Para onde?
Os loucos que brincam com a vida humana e chamam-se de autoridades, vão à s emissoras que lhe interessam, contar quantos pontos fizeram em seu joguinho nada virtual. O jogador de cabelos bem penteados reclama que o outro jogador, o dono do ouro negro que jorra do chão, tratou mal seus bonecos obedientes. Mas mostra, como troféus, bonequinhos do outro lado pedindo permissão pra rezar. Os bonequinhos ainda rezam...
Enquanto isso, os figurantes da vida e da morte tentam aparecer, mostrando sua miséria, buscando o papel principal. Mas, personagens insignificantes têm como cachês, pelo mal desempenho, apenas caixas de comida escassa, entregues em caminhões de baixo preço. Mostram apenas corpos ensanguentados, feridas em carne viva, pernas e mãos mutiladas. Alguns, mais atrevidos, arriscaram-se no choro pela morte de alguém que gostavam. Outros, mostraram casas em ruínas. Mas, a maioria contentou-se em exibir rostos desesperados em fuga...Isso é muito comum...Não vale um cachê mais alto.
Enquanto isso, nós, telespectadores do filme de horror, nos assentamos diante dos pequenos cinemas domésticos e torcemos pela tempestade de areia. A trilha musical da sirene desafinada nos informa que será iniciado o próximo episódio. Num pranto silencioso, nós, mais insignificantes que o pior dos figurantes, baixamos os olhos e rezamos. Numa linha direta com Deus, pedimos que Ele nos devolva a PAZ. Tomara que Deus ouça a sirene que toca... E venha acabar com o jogo...