Como o assunto do momento é a guerra, e pra não perder o costume, pretendia escrever mais uma crónica sobre o conflito do golfo. Estava folheando alguns jornais e revistas na tentativa de buscar mais elementos para um novo texto. Almejava escrever sobre uma nova ótica da guerra. Um novo olhar sem cair na mesmice.
Era domingo à noite.
Minha filha estava distraidamente assistindo ao Fantástico. E o filho, brincando com seus apetrechos de montar e desmontar. Uma infinidade de tralhas no meio da sala. Fazia suas mirabolantes aventuras aéreas entremeadas com cambalhotas sobre o tapete.
Nem havia percebido que o piá já estava com o seu colchão no centro da sala. Tinha feito, com ele, uma espécie de barricada diante da televisão. Colocou o colchão de quina e ajeitou nove armas apontando para Júlia que estava sentada no sofá.
- Júlia! - chamava ele.
A Júlia nem bola.
- Júlia! Júlia!
- Não enche piá.
- Bomba! Para bailar isso aqui é bomba!
O Lucas levanta-se, por detrás da "barricada", portando um cabo de vassoura e uma cueca sobre a cabeça, e afirma em alto e bom som.
- Eu sou os Estados Unidos e tu é o Iraque. - E desancou uma chuva de bombas feitas com bolas de meia sobre a Júlia.
Não pude conter o riso diante da criatividade do guri.
É evidente que as crianças estão vivendo essa guerra no seu cotidiano. Várias delas participam das passeatas pela paz em todo o mundo. As crianças estão convivendo essa guerra globalizada. Assistem a tragédia no dia-a-dia. Inocentemente estão brincando de EUA x Iraque. E ingenuamente na brincadeira querem ser os vencedores. Mas todas falam em paz. Nenhuma criança brinca para matar e causar sofrimento.
Voltando ao conflito caseiro.
A minha participação nessa batalha foi de saqueador. Passei a mão em uma caixa de bombons que estava dando sopa e levei para minha mesa de estudos. Reconheço que fiquei com a parte mais gostosa dessa batalha. "Prestígios" e "charges" surrupiados são mais saborosos. Mas a guerra, no meio da sala, durou pouco.
Não preciso dizer que o "Iraque", por ser maior, deu um pontapé na "barricada" dos EUA e acabou com a guerra.
Lógico, parei de fazer aquela crónica e fiz essa. Inspirado na guerra... Tive alguns momentos de descontração. - Crianças... Ah! Essas crianças!