Ela vem com seu jeitinho todo engraçado, senta na rede e, balançando as perninhas, cantarola o rock´n´roll que acabara de ouvir no walkman. Sua voz desafinada soa doce aos meus ouvidos, como canção de sereia.
Até parece que faz esse tipo meigo de propósito. Aos olhos de todo o mundo disfarça a mulher bravia que vive escondida por detrás da menina moleca e indefesa, com seu rostinho inocente.
Deito-me no banco da varanda, de onde a observo sem deixá-la perceber. Ela se deita na rede que move levemente. Descalça o tênis já batido pelo uso constante, seus pezinhos de Cinderela que um dia saboreei. As canelas finas como gravetos tomam forma à medida que subo meus olhos em seu corpo, até se transformarem em belas coxas expostas pelo short jeans desbotado, que muitas vezes eu mesmo despi. Ela puxa a blusinha florida, deixando a mostra o umbigo atravessado pelo piecing que reflete a luz do sol do fim de tarde. Seu ventre dourado me fascina. Os seios fartos que alimentam meus desejos e desmascaram a carinha de anjo. No colo, a estrela de coco, presa por um cordão de nylon, que comprei na feira hippie enfeita e disfarça o decote.
Por fim, alcanço seu rosto, que reflete a perfeição com a qual foi feita a minha garota. Os lábios carnudos tem o gosto das jabuticabas que vive roubando da vizinha, vermelhos como as amoras que a trago do meu quintal. O narizinho discretamente arrebitado e insinuante que me dá beijos de esquimó, como diz. E esses olhos, verde-escuros como o mar noturno, que nas horas mais impróprias me lançam olhares de fazer tremer as pernas e queimar o àmago.
Sem conseguir conter meu instinto, levanto-me e vou até ela. Ajoelho ao seu lado e acaricio seus cabelos cor de castanha. Fios longos, brilhantes e macios, presos pela fivela de madeira gravada com a primeira letra de seu nome: Catarina. Sem querer, desperto-a do leve cochilo com um beijo na testa.
Ela abre os olhos, um sorriso. Levanta, estica o corpo e me puxa pela mão em direção à praia. Vamos ver o pór-do-sol.