Certa feita, lendo Jaime de Altavila, "A origem do Direito dos Povos", impressionou-me o modo como o autor pincelou de modo descritivo, "na luz opalescente" de um crepúsculo que jamais finda, na sua visão, como as marcas de civilizações agonizantes, tal e qual embarcações que soçobraram, mastaréus, quilhas, restos, enfim, espalhados pela praia, avisando aos estudiosos de que, a despeito de suas grandezas, agora, encalhados na areia, apenas serviam de objeto de curiosidade.
A imagem forte me acudiu nesse instante, porque estou pensando na rapidez como esmaece e some na voragem do tempo a glória humana, aliás, a própria vida humana.
Hoje somos seres que se movem e agem com inteligência, amanhã, de repente, finda o pavio, estiola-se o ànimo, volatiliza-se o àmago da nossa vida e o corpo desaba inerte e frio.
O poder humano, também, sofre as angústias do efêmero, mas poucos se dão conta de tal característica, agindo como se tudo durasse uma eternidade.
Então, chegada a hora do debacle, quase sempre é cruenta a volta à planície, marcha dolorosa com o sol a pino dardejando e, por cima de tudo, a solidão, a imensa solidão de quem não soube cultivar as verdadeiras e duradouras amizades.