Não só o Haiti não é aqui, como vaticinou o poeta baiano, como também Amsterdã.
Consta que o mundo é apenas um só.
O que mudam são as visões, os olhos de quem vê.
O olho olha e vê e sente o que quer sentir.
O olhar faz parte integrante da maneira de ser do fotógrafo.
Antes de fotografar, ele vê...
O registro, no celulóide ou nas retinas, é apenas um detalhe secundário e posterior. O importante é ver.
No entanto, embora o registro seja algo secundário e posterior, da sua efetivação dependerá muita coisa.
Se o registro ocorrer apenas nas retinas e na massa cinzenta do fotógrafo, que um dia os vermes da terra irão devorar, muita coisa não se terá ganhado. A humanidade será privada de compartilhar dessa visão idílica ou terrível (tanto faz!).
Se o registro se der na fita de celulóide ou no magnetismo digital, poderá ser multiplicado ad infinitum. Será perpetuada e muitos outros olhos e mentes a compartilharão no presente e no futuro.
A diferença fundamental é essa! Socializar as visões, tendo o cuidade, porém, de não se expor desnecessariamente.
E viva o simulacro!
Clóvis Campêlo é fotógrafo e escritor filiado a UBE-PE.
E-mail: cloviscampelo@bol.com.br
Site: http://cloviscampelo.vilabol.uol.com.br/portifolio.html.
Texto publicado no jornal O Cometa Virtual, Recife, agosto/2002.