. . .delegar aos albores de tua juventude, meu efêmero destino. Debruçar-me sobre um parapeito imaginário, repousando cotovelos, mãos entrelaçadas, apoiando o queixo, para te observar de certa distància. Tua silhueta jovem e tenra, passeia sobre a grama de nossa casa, Ã margem do rio de nossa espera, antes da chuva fina e um brilho final de réstea sobre a água límpida inesperada.
Permaneço assim, em silêncio e deste extraio minha coragem de ser e manter contigo, esta existência que escolhemos e reservamos, como o vinho branco, frio, regado a sonhos sobretudo úteis.
Ainda é 10 de dezembro e nasces com frequência. Tanta, que as árvores, os pássaros de Camaragibe, as frutas do Oitenta e os nossos vizinhos, desligam-se de seus parvos sussurros, para contemplar-te vestida de chuva, empolgada em tua festa nos olhos castanhos e na boca úmida de querer apenas beijar. Mas só te observo à distància, da janela que aberta permanece, dês que vieste ao mundo, em tua nascença plural, para suportar minha promessa de silêncio e observação. Desço os degraus da porta de entrada, puxo a toalha branca do varal e te enxugo o rosto de chuva. Acolho-te o rosto entre as mãos, beijo-te suavemente os lábios que se abrem, enquanto teus olhos se fecham ao redor de ambos. O horizonte incendeando-se detrás do muro alto, pincelado de hera, manchado de tempo. A silhueta ambulante dessa mulher a quem escolhi agora, nesse presente ágil. Sábia decisão.
Depois, sentamo-nos no piso frio do estar, ao redor das helicónias que encomendei à natureza, para saldar minha dívida contigo, nossa moeda corrente, um amor além fronteiras, um bem-querer de fim de tarde e harmonia.
Assim permanecemos, até que as cigarras comecem e encerrem - talvez por medo de te incomodar - a sinfonia das cinco da tarde. Abro a garrafa de vinho, coloco-o nos copos luzidios de cristal, até que te recostes em meu ombro, tua cabeça, tua juventude e nossas bodas que não pretendem terminar.
WALTER DA SILVA
Aldeia, Camaragibe, PE
08 de maio de 2003.