As Bravatas Continuam
(por Domingos Oliveira Medeiros)
Não Tem jeito. Ou o mundo está de pernas para o ar. Ou estamos todos malucos. O PT mudou da água para o vinho. Vinho francês, é claro. Tirou o macacão, trocou pelo paletó e gravata. Cortou o cabelo e aparou a barba. Passou a usar perfume francês, tudo indica. Sapatos personalizados, no lugar das famosas sandálias de dedo. Sorriso permanente no rosto, vez por outra, entrecortado com ares de preocupação intelectual. Estilo próprio. Piadas para quebrar o gelo. Só ficou a expressão "companheiro". Talvez por conta do marketing.
Lula mudou de lado. E de opinião. Sua linguagem é a mesma dos grandes investidores. Dos que vivem de aplicação e de renda. Dos juros e da moeda americana sempre em alta. "Os juros cairão na hora certa". "Não se pode intervir no càmbio, que é livre e flutuante", diz o nosso presidente.
Mas se as coisas ficassem nestes patamares, até que daria para esperar mais um pouco. Ainda restaria uma esperança. Entretanto, a obsessão e a pressa pela aprovação das reformas, junto com a postura ditatorial de não permitir que os filiados do PT votem contra, ou modifiquem pontos discordantes da reforma, passa a preocupar.
Principalmente quando o presidente sai à procura de ampla maioria. Já namorou com todos os partidos. Do PFL ao PMDB, passando pelo PSDB. Já "ficou" com todos eles. Só esqueceu do povo; justo quem o elegeu presidente, todos deputados e senadores. Povo, aliás, se não me falha a memória, que apostou nas mudanças. Mas não nas mudanças de que falamos até agora.
E arte da `bravataria" parece que tomou conta do governo, como um todo. Tanto é verdade, que o deputado António Biscaia (PT-RJ), em reunião havida na Comissão de Constituição e Justiça, para discussão da reforma da Previdência, lembrou o voto em separado, apresentado por integrantes do partido, em 1999, sobre o mesmo tema, segundo o qual se posicionavam pela inadmissibilidade da matéria, apresentada pelo então presidente FHC, por considerá-la inconstitucional.
Assinaram, Ã época, o voto em separado: José Dirceu, hoje chefe da Casa Civil, Marcelo Deda, prefeito de Aracaju, Waldir Pires, corregedor-geral da União, Geraldo Magela, alem do próprio Biscaia.
Agora, depois da divulgação da lista de devedores da Previdência, tentam minizar o rombo, e a ineficiência na cobrança daquela dívida, (R$65,3 bilhões, só as empresas que já foram condenadas), apelando para o inusitado.: segundo o ministro Berzoini "....sabemos que a recuperação desses créditos é quase impossível por causa da situação das empresas". Ora bolas! O governo dispõe de um arsenal de instrumentos para cobrar dos devedores. Inclusive, para estabelecer penalidades para os mesmos. Recursos administrativos, legais e operacionais. Além do que, bravata também tem pernas curtas. Da lista constam mais de 176 mil nomes. Todos em situação difícil? Não.
A Petrobrás, pelo menos, é bom exemplo. Segundo a imprensa, a empresa teria acumulado o maior lucro de sua história: cerca de R$5,545 bilhões no primeiro trimestre deste ano. Um recorde, se compararmos com o mesmo período do ano passado, quando a empresas registrou um lucro de R$866 milhões.
O detalhe é que sobredita empresa consta na listagem de devedores com um débito junto à Previdência, cujos valores não chegam a R$ 100 milhões de reais.
O governo não está fazendo a coisa certa. Conforme prometeu. Não está havendo sinceridade e transparência em suas ações. Nem firmeza e honestidade de propósitos. Haja vista a medida provisória que, contrariando uma lei em vigor, e se rendendo à s pressões dos grupos que encabeçam os campeonatos de automobilismo (Fórmula Um), liberou geral, para a última corrida, no Rio de Janeiro, a propaganda de cigarros.
Bravatas e mudanças para todos os lados. Sempre em desfavor da população.