Memória arquivada desde os tempos mais remotos da infància: as abelhas zuando na pitangueira florida no quintal de minha avó. Ouço-as agora, com a mesma intensidade, embora não haja mais quintal nem pitangueira florida.
Outra memória paralela: o capitão Botelho combatendo bem-te-vis predadores com tiros de espingarda.
Estou distante daquele ambiente, mas há torpedos em rondas ameaçadoras e os pássaros já se afastaram dali.
Num terceiro movimento, a memória guardou ecos da guerra, o blackout, o medo espalhado no semblante dos adultos, a impressão de que o mundo
inteiro desmoronava...hoje a sensação de desamparo persiste, embora a terra viva em surtos de paz num quadro geral de desunião e de guerra.
O mundo tem muitos donos, há pessoas brincando de Deus, há poetas de menos e guerreiros de mais. Que pena!