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Cronicas-->LÉO - UM FRANGO QUE MORREU DE SAUDADE -- 24/05/2003 - 15:50 (OLYMPIA SALETE RODRIGUES - 2 (visite a página ROSAPIA)) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
LÉO - UM FRANGO QUE MORREU DE SAUDADE

Eu trabalhava num orfanato.

Perto da igreja encontrei um pintinho abandonado , ou perdido, vagando sozinho, piando, piando. Tomei-o nas mãos, bati nas casas da redondeza procurando seu dono. Não era de ninguém. Levei-o para o orfanato: haveria melhor lugar para um pintinho abandonado?

Porque era todo amarelinho, alguém resolveu dar-lhe um nome pomposo: YELLOW. Mas as crianças resolveram aportuguesa-lo para Léo.

Entre nós, Léo recebeu alimento, calor e carinho. Enquanto eu trabalhava na Secretaria, ele andava sobre a mesa. Às vezes, sem cerimónia, dava uma agachadinha e salpicava algum papel importante. Eu tratava de limpar antes de levar uma bronca da Superiora. Aprendeu a conhecer o som da campainha e corria atrás de quem fosse atender à porta. À hora das refeições, ciscava sob as mesas do refeitório, comendo os alimentos que as crianças derribavam (às vezes de propósito).

Por fatalidade inadiável..., Léo virou um frango... A Superiora, que sempre fora contra aquele bichinho ali, perdeu a paciência e determinou que seu destino seria a panela. Pànico! Todo o mundo gostava muito de frango... mas, comer o Léo? Afinal, ele era um membro da nossa comunidade... A Madre permaneceu firme na sua decisão: panela! E daí? Quem o mataria? A Irmã cozinheira, por maior consciência que tivesse de seu voto de obediência, preferiu pecar a executar o querido Léo. Impasse. Ninguém aceitou a tarefa, para felicidade minha e das crianças. (Muito intimamente eu suspeitava que a Madre Superiora estivesse gostando daquele adiamento...)

Uma senhora amiga da casa, Dona Nina, vendo o problema, ofereceu-se para hospedar Léo no galinheiro de seu quintal. E lá fui eu, levar Léo para sua nova residência, satisfeita com aquela solução.

Léo não foi bem recebido pelos outros frangos e precisou ficar num lugar isolado, fora do galinheiro. Encorujou-se, amuou-se. Dona Zezé se preocupou e me avisou. "Já sei - eu disse -, é saudade das crianças." Na manhã seguinte, organizei um passeio com a meninada: "vamos visitar o Léo".

As crianças na calçada, junto ao portão dos fundos, Dona Nina trouxe Léo até nós. Ele cacarejou alegremente, esfregou-se nas pernas das crianças, festejou como faz um cachorrinho. Foi pego e acarinhado, passou de colo em colo, parecia entender o que dizíamos para ele. Ficamos ali algum tempo e fomos embora, prometendo voltar. Não sabemos se Léo conseguiu entender isso o suficiente para esperar nova visita.

No dia seguinte, Dona Nina telefonou: "Depois que vocês se foram, Léo voltou ao seu isolamento, à sua tristeza, passou o dia encorujado. Hoje... amanheceu morto."

Uma das minhas experiências mais ricas no convívio com animais, Léo, é saber que um frango pode morrer de saudade. Você era apenas um frango... sentia profundamente o afeto, a partir de seu instinto. Se fosse um ser humano, estaria ainda vivo...


Transcrito de meu livro: "Meus Bichos - Histórias de Vida. Publicação da Secretaria de Estado da Cultura, Regional Marília. 1983.

LEIA:
BICHO, HOMEM E SAUDADE

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