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Discursos-->A Farsa da Liberdade ! -- 24/07/2002 - 13:17 (António Torre da Guia) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
----- Caro e Ex.mo PRIMUS:

----- Como prometido é devido, aqui estou, sucinto quanto possível e objectivo, a exprimir os meus pontos de vista e sentimentos, sobre o "famigerado" - que tem fama, celebrado, célebre - "25 de Abril".

----- Alguns meses após a data, o falecido Carlos Zel, cantava: "Nunca mais darei um cravo / Nos dias da monha vida".

----- Ponto 1:

----- Cerca de 1967 escrevi "Pão de Gestos", texto destinado à interpretação fadista de Adriana Franco, assim:

--------------- Cresce farto e dourado
--------------- Por esses campos o pão
--------------- E há tanto mal espalhado
--------------- No gesto de cada mão.

--------------- Cada mão, cada senhor,
--------------- Fazendo gestos à gente
--------------- Como se gestos na dor
--------------- Fossem do pão a semente.

--------------- A semente que germina
--------------- Gesto bom na semeada
--------------- E transforma cada sina
--------------- Numa cruz menos pesada.

--------------- Menos pesada que aquela
--------------- Que o povo vai carregando
--------------- Sem saber se será nela
--------------- Que vai ser crucificado!

----- A codiciosa e férrea censura política de então esgrimiu de imediato o seu activo lápis azul sobre a quarta quadra. Com música de Álvaro Martins, Beatriz da Conceição e Rodrigo cantaram o tema apenas com três quadras. A partir daí a PIDE convidou-me a fazer várias visitas de cortesia à Rua do Heroísmo, no Porto.

----- Nunca tive, nem tenho ainda, intenções de ascensão política ou pendores de carreira em tal ofício. Já não suporto uma criatura política a discursar...

----- Sentimento 1:

----- É pois natural que tivesse recebido o "25 de Abril" com alívio, por um lado, e júbilo, por outro. Decorridos 28 anos e apesar dos gravíssimos e irremediáveis prejuízos que sofri, ainda afirmo: padeça eu a plena liberdade de expressão de todos.

----- Ponto 2:

----- Após o vergonhoso estendal de peripécias ocorridas, hoje, no que concerne ao pedacinho frontalda jangada de pedra, inventada por Saramago, assisto à deprimente farsa social das cinco pirâmides (PSD-PS-CDS-PCP-BE); só experimentam e gozam bem a vida os que fazem parte dos vértices.

----- Os outros, paradigmas evoluídos da epopeia esclavagista americana, sentem-se bem ao serviço dos seus senhores, desde que permaneçam, mesmo em vivência medíocre, junto das mulheres e dos filhos. Pudera!

----- Quem do exposto concorde ou discorde, está integralmente dentro do conceito exprimido e do lado de quem estiver. O resto será tão só "blá-blá" e "blé-blé".

----- Sentimento 2:

----- Se a Salazar e Caetano não se perdoa a férrea censura e a falta de visão política sobre habitantes e solos lusófonos, aos mentores do caos mortal que se lhes seguiu, com a entrega das colónias a independências fantoches regidas por ambiciosos impreparados, não se deverá perdoar nunca a emenda que produziu o descalabro do multi-secular soneto lusíada.

----- Ponto 3:

----- Alimentação e vestuário de excelência, sonhos e realizações em diáfanos leitos, fausto e pompa, ordenados pelo menos vinte vezes superiores aos da vida corrente, constituem as privilegiadas benesses da cambada vesga que se acotovela na sem bicha de Belém e São Bento, oportunistas que perfilham os ditâmes da corrupção tácita e até financiam os torcionários que promovem a inversão de valores. Intimidade, decência pessoal, dignidade humana, pode dizer-se, foram uma vez!

----- Constate-se quais os métodos efectivos que no momento se aplicam à nossa cultura, desporto e recreio, principalmente através dos canais televisivos que usufruimos.

----- Sentimento 3:

----- Droga, sida, violência urbana, ignorância acérrima no auge, injustiça social de verter sangue. Sodoma e Gomorra a transbordarem de vícios, muito mais além do que a Bíblia descreve. Sinto-me mal a viver aqui. A desumanidade campeia, a indiferença sorri, a solidariedade finge e a amizade soçobra. O quotidiano está a transformar-se numa luta insuportável.

----- Conclusão:

----- Creio que, doravante, quando aqui na Usina me referir ao "25 de Abril", entender-se-à decerto quais os pontos e sentimentos que enuncio sobre o estranho produto dos famigerados capitâes sentados.

----- A quem como eu opinar e sentir, exprimindo-se em equiparado jeito, com que epíteto se deverá sublinhar o texto? O palerma lucraria muito mais se não tivesse tocado nas teclas.

----- Um luso abraço, PRIMUS.

----------------- Torre da Guia ------------------
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