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Discursos-->A USINA EM AGOSTO ! -- 01/08/2002 - 12:20 (António Torre da Guia) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

----- Hoje, porque na habitual ronda aos corredores da Usina vislumbrei luz nítida numa das salas, apetece-me elaborar um discursozinho, tomando uma das lentes do meu dilecto e sempre venerado Eça.

----- A erudito que finja ou não finja, as mossas usinais calejaram a ponto de funcionarem já como excelente analgésico contra picadelas reaccionárias. Cada vez mais me sinto insensível ao pretensiosismo balofo, corriqueiro, vindo das brumas inconscientes que tudo deturpam e degeneram.

----- Do ilustre José Maria, tomo-lhe um gostoso texto que tem até a particularidade coincidente de referir-se à data em que escrevo:

--------------- LISBOA EM AGOSTO -----------------

----- "Primeiro de Agosto. Lisboa está transformada num caldo morno. No Rossio, onde paro para beber um fresco capilé, à sombra dos prédios, nos cafés e esplanadas discute-se política, a revolta dos boxers, mas sobretudo o atentado mortal contra o rei Humberto de Itália. Subo o Chiado, lentamente, parando de vez em quando para me abanar com o «palhinhas». Quando entro na redacção da Rua Larga de São Roque, o Neves tem um «ar de caso». Vejo logo que há mouro na costa. O Neves é um major de artilharia na reserva a quem a administração do jornal confiou a chefia da redacção. Coxeia de uma perna, recordação de uma zagaiada em Coolela, voz estentórea, modos bruscos. É para todos um mistério o motivo que levou a administração a escolhê-lo. Dizem uns que é por ser muito sério, outros por ser mação como o dono do jornal. Não sei. Gosto dele, embora à vezes se porte pior do que as cavalgaduras com que até há pouco lidou. Pergunta se já tenho pronto o texto sobre o voo do conde von Zeppelin. Está pendente de uma informação que espero obter ainda hoje. Vou terminá-lo esta noite e trazê-lo amanhã. Abre-me os olhos:

- Veja lá se não se atrasa mais. Aqui nesta casa, enquanto for eu a comandar, pendentes só os tomates!

Depois tosse, faz uma pausa e pergunta-me se conheço Paris. Claro que sim. Acabado o curso, o meu pai pagou-me duas semanas de regabofe na cidade das luzes. Bem, o que ele me disse quando me entregou o cheque sobre o Credit Lyonnais é que era um contributo para completar a minha formação cultural. Nem vocês calculam como aquelas duas semanas ajudaram à minha formação cultural!

Eça de Queirós

--------------------------------------------------

----- Chega! Chega e sobra para o que pretendo demonstrar. Se à escrita de Eça substituir Lisboa por Usina e estreitar nomes com outros nomes, nem mais tempo perderei a alongar-me.

----- Pronto, já está! E são favas contadas, pois não me custou mesmo nada...


------------------ Torre da Guia -----------------
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