DISCURSO DE POSSE NA ACADEMIA CEARENSE DE RETÓRICA (05.03.93)
A Deus que nos concede o dom da vida e nos infunde a inteligência para entender o grande espetáculo da Criação, ergo o meu primeiro pensamento e a gratidão pelas alegrias do momento.
Aos meus pais, que me trouxeram ao mundo nesta ensolarada cidade de Fortaleza, os meus agradecimentos pelas noites indormidas, pelos conselhos, pelas diretrizes iniciais para os rumos da minha vida.
À minha querida Alice, amiga, incentivadora, esposa incansável para desculpar as minhas falhas e preencher as horas da minha vida com tanto amor e tanta dedicação, o penhor da minha dívida irresgatável.
Aos meus filhos, razões da minha porfia cotidiana, dedico as reflexões desta noite inesquecível.
Aos colegas da Academia que sufragaram o meu nome, tornando possível esta hora.
Ao Acadêmico Eduardo Campos os meus agradecimentos pelas palavras que proferiu a meu respeito.
Um cultivador de silêncios, paradoxalmente, chega à Academia de Retórica.
Foi o primeiro pensamento que me ocupou a mente ao receber a notícia da escolha do meu nome para integrar o sodalício tão bem presidido por Osmundo Pontes.
Sou, na verdade, um orador poupado de palavras. Tenho preferência indisfarçável pelas frases curtas, incisivas; pelo discurso breve.
Desde os tempos do curso primário, lendo a Crestomatia, aprendi a deleitar os meus ouvidos com as emanações solenes da ausência de sons. Como o silêncio nos fala eloqüentemente!
Recordo de passagens da minha preferência: A Academia Silenciosa, onde tudo era realizado sem que fosse necessário emitir um único som.
Por exemplo, para mostrar ao candidato a inexistência de vagas, foi colocado diante dos seus olhos um copo repleto que uma gota a mais o faria transbordar.
O candidato, entretanto, conseguiu ingressar na Academia pondo com habilidade uma pétala de rosa sobre a água sem derramar uma só gota. A sua presença não traria distúrbios.
Na solenidade de posse o novo acadêmico escreveu um zero à esquerda do número de associados, demonstrando o quanto iria crescer a entidade com o ingresso do novo sócio.
Tenho a responsabilidade de substituir nesta casa uma figura da estirpe de Itamar Espíndola, por coincidência, a primeira voz que me saudou quando me tornei magistrado.
Sua palavra meticulosa e sábia, seus conhecimentos lingüísticos, seu estilo escorreito, na realidade, servem de norte para os cultivadores da palavra como um dos mais importantes dons da humanidade.
Que dizer do patrono da cadeira que vou ocupar?
Dom Antônio de Almeida Lustosa, além de um religioso santo, vocação inequívoca para pastor de almas, arcebispo querido de nossa capital por tão longos anos, foi escritor emérito, escreveu inúmeros contos, dentre os quais, alguns deles publicados na Crestomatia a que aludi alhures, como o "Bem Feito do Didi", que povoou durante anos a minha imaginação de jovem.
É indizível a minha emoção e ímpar a minha alegria de estar aqui, mesmo sabendo da exata dimensão das minhas limitações, pela vontade imperiosa de meus colegas para enfrentar com zelo e humildade um desafio a mais que a vida me impõe.
Muito obrigado a todos os que sufragaram o meu nome e a quantos vieram testemunhar a minha iniciação.
Agradeço a Amatra VII, na pessoa do seu Presidente, Dr. Francisco José Vasconcelos, que nos brindará com um coquetel após a solenidade.
Finalizo com uma promessa, nascida do mais escondido e profundo do pei-to: a de que tudo envidarei para jamais decepcioná-los.