De súbito me sucumbi de amor por ti, como o frêmito de meus pulmões a ventilar meu estômago, e do momento imóvel fez-se poesia altiva, do olhar ansioso e cadenciado fez-se fixo e sensitivo, dos lábios que á horas não se movia fez-se um sorriso de canto, molecado, cheio de diamante, senti novamente o germe do amor deleitar em meu corpo já olvidado, e de remate pousar uma pétala de paixão em meu ombro pesado, de susto levantei-me correndo, com uma pressa justa de seres sem segundos a perder, senti ternamente um arrulho ósculo de seu sorriso em minhas lembranças de amante em êxtase, fiz-me vasto largo profundo, cheio de estupendo, completo imenso monumental, ah que amor mais imaculado, indissolúvel íntegro global, só em ti vi-me na quietude do saber que a vida se faz de amor assim, amor artístico cheio de trégua e perdão, e meu corpo se encontra no âmago do seu, assim, como o desprender leve da aurora sem sanha nem cólera, agasalho-te fagueiramente em meus braços compridos só por ti, num simples e sereno acalanto de amor...